
Sem darmos conta…
Carlos Aguiar Gomes
Por ocasião do centenário do «PCP» emergiram dados e
elementos que nos devem fazer refletir.
Assim
uma antiga militante e dirigente do dito partido – expulsa em 1988 –
reportando-se ao ‘livro negro do comunismo’, editado em 1998, expôs os
seguintes números das vítimas da ideologia comunista:
Porque há tanto medo
de expor esta triste e maléfica realidade? Preconceito, manipulação, confusão
ou cobardia? Até onde irá a lavagem vermelha de realidade tão atroz? Como não
podemos apresentar estes dados, quando se vê a glorificação de quem matou, só
porque não estava de acordo? As vítimas de outros acontecimentos – nazismo,
fascismo, tribalismo ou fundamentalismo – e genocídios ofuscam ou servem de
vanglória para as conquistas feitas com sangue e atrocidades dos comemorados?
Retomando as palavras
supra ditas, vou esmiuçar:
* Do preconceito à
manipulação
Vem a ‘talhe de
foice’ – que não a do símbolo, mas a expressão popular que significa ‘a
propósito’ – contar aqui um pequeno episódio ocorrido com um imigrante
ucraniano, quando viu serem colocadas bandeiras a esmo numa avenida, aquando da
dita celebração do centenário do «pcp». Saído do carro de repente questionou os
que dependuravam as ditas bandeiras/estandartes: não têm vergonha de colocar na
rua coisas com essa cor e esse emblema? Sabem o que significa essa cor –
vermelha? É o sangue de muitos ucranianos, mortos por essa gente… Esse símbolo
é sinal de morte, muita morte… em tantas partes do mundo! Não têm vergonha
desses crimes? Os tarefeiros só diziam: é do centenário, é do nosso centenário!
Tirem essa porcaria, respeitem a memória de milhões que morreram, mortos por
essa gente!
= Será que todos
sabem que a cor vermelha/encarnada – sempre me confunde esta distinção
regionalista – é mais fruto de morte do que de vitória? Os milhões supra
citados pagaram, por vezes, com o sangue e a morte a ousadia de resistir…
= Não lhes pesa na
consciência saberem que foram causa de infortúnio para milhões e que atiraram
para a miséria milhares com as suas lutas, reivindicações e combates
sindicalistas?
* Em confusão ou por
cobardia?
Muitos dos ‘crentes’
do partido foram catequizados na benevolência daquilo que lhes era apresentado,
mais como discurso heróico do que como leitura da realidade objetiva. É com
grande impaciência que não vejo o reconhecimento total ou parcial dos
malefícios da ideologia comunista.
É verdade que,
enquanto membro e participante da Igreja católica, também reconheço que houve
erros, falhas e até crimes em nome da fé. Não esqueço a famigerada ‘Inquisição’
– sistema jurídico-espiritual de combate à heresia, à blasfémia e à bruxaria, a
partir do século doze… em Portugal esteve em vigor de 1536 até 1821 – com os
seus métodos, argumentos e consequências. Não podemos ainda esquecer as
‘cruzadas’ ou o processo dos ‘descobrimentos’ e a imposição dos interesses
colonizadores, a escravatura… e tantas outras situações onde a propósito da fé
se derramou sangue e, tantas vezes, se causou morte.
No contexto do
jubileu do ano 2000, a 12 de março, o Papa João Paulo II pediu pública e
humildemente perdão pelos pecados da Igreja ao longo da história da Humanidade,
reconhecendo erros, más opções e até contradições entre fé e vida.
= Por que será que a
ideologia comunista nunca teve esta atitude, antes se vangloria, desfradando ao
vento sinais de sangue e de morte?
=
Embora o pedido de perdão não faça reverter as vidas ceifadas, não será mais
honesto e sério intelectualmente reconhecer as falhas do que entrincheirar-se
nas certezas dogmáticas desconexas?
ANTÓNIO SÍLVIO COUTO, In DM 15.03.2021
Carlos Aguiar Gomes
P. Tiago Freitas
Fernando Pinheiro
Artur Soares
António Sílvio Couto (Pe)
Fernando Pinheiro