
«O Estado Novo [ainda] não saiu de Portugal»
Mário Pinto, in Observador - 30 jul 2022
A recente intensificação do terrorismo
islâmico na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, cujo último
atentado culminou com a devastação da vila de Palma, onde viviam cerca de 50
mil pessoas, inspira-me uma nova reflexão em torno de um problema
político-religioso que está a causar uma grande tragédia humana num dos países
mais pobres de África: 2 mil mortos e 700 mil desalojados. Acontece, porém, que
este povo, agora sacrificado, vivia em paz nas terras herdadas dos seus
avoengos desde há longínquas eras, e com a invasão das milícias armadas perdeu,
ou está em risco de perder, todos os seus bens patrimoniais. Para os
sobreviventes, e para os que ainda se encontram escondidos no mato, resta-lhes
o socorro de familiares ou amigos que possam ter em Pemba, e a ajuda
humanitária de organizações estatais e não-governamentais, enquanto o exército
moçambicano procura reforçar a sua posição na província de Cabo Delgado, cuja
fronteira terrestre confina com a Tanzânia, país onde os terroristas têm os
seus campos de recrutamento e de treino.
O grupo terrorista que flagela Cabo
Delgado é um braço armado de uma organização da Al-Shabaab (A Juventude), cujo
principal centro de operações se situa na Somália. É deste país muçulmano que
estende ramificações jihadistas para o Quénia, (Etiópia?), Tanzânia e agora
Moçambique. Se a esta progressão territorial juntarmos o terrorismo da Boko
Haram (A educação ocidental é um pecado), que flagela países como o Senegal,
República Centro-Africana, Burkina Faso, Mali, Nigéria, Camarões, Chade, e
outros, percebemos que a jihad (ou guerra santa) está ativa em praticamente
toda a região subsaariana. Segundo a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
(Fundação AIS), só na Nigéria, a Boko Haram já matou entre 50.000 e 70.000
cristãos e provocou mais de 2 milhões de deslocados.
A principal motivação destas
organizações terroristas islâmicas é de índole religiosa, porquanto, tal como o
Daesh do Iraque, pretendem instituir um califado unitário que congregue os
muçulmanos debaixo da principal lei da tradição árabe, a sharia.
Precisando, porém, o califado de território para a implantação de um estado
religioso, da mais pura ortodoxia salafita (sunita), impõe-se a conversão ao
Islão de todos os crentes das outras religiões, mormente dos cristãos, por quem
demonstram um ódio irracional e assassino. E sempre que os cristãos não aceitam
trocar o Evangelho pelo Alcorão, os terroristas
matam a sangue-frio estes não-conversos; incendeiam-lhes as casas; raptam-lhes
os filhos, sobretudo as raparigas adolescentes; sequestram pessoas para a
extorsão de dinheiro; e vandalizam igrejas, escolas, seminários, segundo uma
perseguição que não tem paralelo na história da humanidade, por não estar
radicada em nenhuma causa justa, ou justificável.
Matar e abusar de inocentes não é uma
causa justa! Impor uma religião pela força das armas não é uma causa justa!
Pensar na implantação em África de um califado, que faria de todos os
indivíduos, independentemente de serem muçulmanos ou não, súbditos de um chefe
religioso, político e militar, não uma é uma causa justa! Tal projeto,
teocrático e imperial, em pleno século XXI, não passa da expressão de uma
utopia arcaica, extemporânea e irrealizável, quer à luz do processo histórico,
quer à luz do progresso civilizacional da humanidade.
Com efeito, a história desmente esta
utopia dos guerrilheiros islâmicos, porque, em 1.400 anos de Islão, os árabes
nunca conseguiram atingir o desiderato político-religioso do califado unitário.
Aliás, passados pouco mais de 300 anos, o Islão já estava dividido nos
califados de Bagdad, Cairo e Córdoba. Entretanto os califados acabaram, e o
mundo árabe está hoje dividido em sultanatos, emirados, reinos, repúblicas e
teocracias, como é o caso do Irão.
Se este terrorismo religioso não for
erradicado, mormente por ação da Arábia Saudita (sunita) e do Irão (xiita), o
Islão verá a sua identidade teológica seriamente afetada, porque o profeta
Maomé disse: «Combatei pela causa de Deus aqueles que vos combatem, porém não
pratiqueis a agressão, porque Deus não estima os agressores (2ª Surata, 190).»
Acontece que o povo africano não é agressor, mas agredido. Ora, se Deus não
estima o agressor, e se para Deus a religião é o Islão (3ª Surata, 19), então
os jihadistas incorrem num ato de desobediência ao seu Deus! Alguém entende
esta guerra santa, como eles dizem?
Fernando Pinheiro, In DM 07.04.2021
Mário Pinto, in Observador - 30 jul 2022
Francisco Vêneto - publicado em 26/07/22, in Aleteia
Pedro Vaz Patto, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz
Senhor ministro da Educação, se não quer ficar na história como o Inquisidor da propaganda de género, desbloqueie este nó górdio por si criado pois tem no Parlamento uma maioria do seu partido.
Isabel Ricardo Pereira, In 7Margens, 6.07.2022
Jorge Bacelar Gouveia