
O melhor seria
Dina Matos Ferreira | 21 Mai 2022
Vivemos uma hora penosa e de grave crise
na Igreja católica: na realidade, já desde há algumas décadas, mas era
absolutamente proibido dizê-lo publicamente. Quase todos se empenhavam em
sublinhar a eficiência da presença da Igreja na sociedade e a realçar o seu
peso e as suas capacidades de intervenção.
Quem não queria fazer parte deste coro
habituado a celebrar triunfos sem nunca conjeturar fracassos, nem sequer
parciais, foi autorizadamente denominado e definido como profeta da desgraça.
Mas hoje é um cardeal, o arcebispo de Munique, ex-presidente das Conferências
Episcopais Europeias, membro do conselho que assiste o papa na reforma da
cúria, a gritar que a Igreja «chegou a um ponto morto», e a afirmar que esta
situação lhe alterou a fé. Preste-se atenção: alterou a fé de um bispo de
sessenta anos, induzindo-o a apresentar a demissão.
Tudo com a subscrição «na obediência e na
paz», o moto do papa João.
Vivemos em muitos aspetos um profundo
mal-estar que, no entanto, só em parte é devido aos escândalos suscitados pela
pedofilia. Este último é certamente um crime grave e detestável, e toda a
Igreja se tem comprometido em procurar compreender de maneira nova este abuso,
preveni-lo e impedi-lo, até à condenação.
Mas não nos esqueçamos que quem comete
delitos de pedofilia é um doente: a pedofilia está inscrita na patologia de uma
pessoa, e por isso a pessoa deve ser não só condenada uma vez cometido o
delito, mas também ajudada, acompanhada e acolhida, porque é um ser humano
pecador ao qual nunca se deve negar a misericórdia de Deus e da Igreja. Há
muito justicialismo no campo católico, muita tendência a ceder às correntes
dominantes dos meios de comunicação social e a certo moralismo populista.
Também na Igreja se
carrega a cruz, que nas palavras de Jesus é instrumento da própria execução: a
cruz é situação cruel e abjeta, que nunca devemos imputar aos outros e da qual
não devemos falar piedosamente àqueles que a estão a carregar
Não consigo compreender, antes, como não perturbam as consciências as revelações da limpeza étnica operada nas escolas católicas no Canadá até 1980, onde crianças arrancadas às suas famílias e enclausuradas naqueles colégios-campos de concentração foram maltratadas, negligenciadas, até morrerem e serem sepultadas em valas comuns (calcula-se pelo menos seis mil). Delitos perpetrados por padres, religiosos, religiosas…
Aqui não há patologia, há malignidade, há
um exercício perverso do poder. Pergunto-me: como foi possível para cristãos
que se dizem “consagrados” cometer semelhantes crimes? E estes crimes não serão
gravíssimos? Por isso é um escândalo, que suscita interrogações sobre a
capacidade de viver o cristianismo, numa Igreja até generosa de missão, ardente
em devoção, como no Canadá, mas depois pior que perseguidora. Portanto, não se
restrinja a crise da Igreja à praga da pedofilia: há toda uma ordem de
autoridade, poder, riqueza que deve ser julgada pelo Evangelho.
Como tentar sair disto e chegar a uma
verdadeira reforma? Sim, sabemos que a reforma começa por nós próprios, mas isso
a Igreja sempre pregou, sem depois dar passos para reformar a instituição. O
cardeal Marx sublinha-o: as culpas não são somente pessoais, mas correlatas à
instituição.
Nesta situação, também na Igreja se
carrega a cruz, que nas palavras de Jesus é instrumento da própria execução: a
cruz é situação cruel e abjeta, que nunca devemos imputar aos outros e da qual
não devemos falar piedosamente àqueles que a estão a carregar. É extraordinário
que o próprio Jesus foi ajudado a levar a cruz não só pelo Pai, mas também por
um pobre homem, Simão de Cirene, que no caminho do Calvário tomou a cruz às
suas costas. Escrevia o teólogo Yves Congar: «Sofrer na Igreja é penoso, mas
sofrer por causa da Igreja é terrível».
Enzo Bianchi
In Altrimenti
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: Reuters | D.R.
Publicado em 19.07.2021
Dina Matos Ferreira | 21 Mai 2022
Emanuel do Carmo Oliveira
Vendo o que está a acontecer agora na Rússia, não posso estar mais grato a quem me deixou como herança esta Igreja liberta das garras da Política.
Aborto e valores europeus
Vamos lá sinodalizar?!
o PS mente, o governo rouba, o povo paga