
O melhor seria
Dina Matos Ferreira | 21 Mai 2022
Depois de
todos os episódios protagonizados por Simone Biles nas suas sucessivas
desistências de finais olímpicas, abriu-se definitivamente o debate sobre a
saúde mental no deporto de alta competição. Qual o preço a que estão sujeitos
os atletas em relação à sua saúde mental, devido à pressão e ao estoicismo do
seu esforço?
Embora na
Igreja discutamos sempre o essencial (como a celebração eucarística no rito
antigo), há muito que há sinais preocupantes da existência de muitos
presbíteros em rutura mental, em burnout, com excesso de pressão, que
não conseguem gerir as expectativas e, sobretudo, as exigências dos fiéis
acerca eles. Por causa disso, tantas vezes, se entra por dois perigosos
caminhos: num, alimenta-se a imagem do presbitério perfeito, puritano,
impecável, seráfico, mas que rapidamente cai na obscura vida dupla, porque o
exterior não corresponde ao interior; ou, noutro, alimenta-se a imagem do
presbítero que é moderno, diferente, centralizador das atenções e até popstar, que vem inovar e revolucionar a Igreja e que,
passado algum tempo, se desilude a ele e aos seus seguidores, porque é humano e
tem a mesmas debilidades de tantos outros. Ambos, de certa maneira, anunciam-se
a eles, esquecendo Jesus Cristo. E ambos estão em perigo real e concreto de
viver algo que, desde o século passado, se conhece como “síndrome do bom
samaritano desiludido”.
Este
Síndrome ou doença, para que melhor percebam, aplica-se a um presbítero que
vive em burnout, depressão e ansiedade. Numa
palavra, em constante pressão mental, que pode provocar uma doença mental. Este
síndrome é potencializado por vários fatores:
O
“trabalho” de presbítero, entendendo-se “trabalho” por missão ou por labor
pastoral, define essencialmente a sua identidade e pertença à Igreja. Ele é
simultaneamente uma pessoa que está dentro das categorias daquelas que são
chamadas “profissões de ajuda”, já que realiza funções de acolhimento, escuta,
assistência, ou até orientação e aconselhamento aos fiéis. Está, também, na
categoria daqueles que desempenham papeis de liderança, nomeadamente pelo seu
empenho em causas sociais, na orientação das comunidades para fins comuns,
pelos cargos que desempenham ao serviço das suas dioceses. Do padre espera-se
que seja um modelo de virtude e santidade, e não um homem escolhido por Deus,
para que o Povo não se esqueça que é Deus, esse sim, é modelo e guia eterno e
perfeito.
Dão
testemunho do Evangelho, mas como seres humanos que são, quando expostos a
situações de dúvida e conflito e revelam reações de stress, quer pela dedicação às funções assumidas, quer
pelos focos de tensão, que são muito variados, muitos esquecem que os padres
são seres humanos e não atletas olímpicos! Reparem: tantas vezes o pároco
enfrenta a crítica e a contestação sem o mínimo fundamento e veracidade, ou sem
o esforço do diálogo e da compreensão por parte dos paroquianos; tantas vezes,
nos lugares mais pobres e afastados dos grandes centros urbanos, o sacerdote
lida com uma ampla gama de problemas, não só espirituais, mas também sociais, o
que eleva a expectativa da comunidade que dele espera receber a resposta para
tais problemas. Os padres lidam, ainda, com uma enorme falta de privacidade.
Não interessa se estão tristes, cansados ou doentes; porque são sacerdotes têm
de estar à disposição dos fiéis 24 horas por dia, sete dias por semana.
E essa
distância entre a imagem ideal e a real do padre aumenta quando se tem presente
o que dele pedem os documentos da Igreja, que referem qualidades humanas tais
como: a capacidade de relacionamento, a bondade de coração, a disponibilidade,
a sinceridade, a escuta ativa. O sacerdote, consagrado pelo Espírito de Deus e
enviado por Jesus Cristo, tem de esforçar-se por estar sempre no caminho da
santidade e da caridade pastoral, um ideal grandioso, que acaba, para muitos,
por ser mais uma carga do que uma ajuda no crescimento humano-afetivo e
espiritual. Tal como acontece com os atletas olímpicos, de quem se espera
superação constante, resiliência até ao limite, força e vitórias constantes!
E o que
acontece no interior, no coração e na cabeça de tantos sacerdotes? Muitos
relatam que se sentem impotentes, incapazes e tristes diante dos
pedidos/exigências dos seus paroquianos ou outros cristãos, carregados de
expectativas, mas difíceis de encaminhamento e desprovidos de sentido de
misericórdia para com o próprio sacerdote.
Pregar e
viver a realidade; compreender o que a Igreja ensina e a distância entre isso e
a vida real; lidar com as próprias emoções, sentimentos e pensamentos são
dificuldades que os padres enfrentam e que não cabem no entendimento que os
leigos comuns têm das tarefas e atribuições que fazem parte do ministério
sacerdotal. E às vezes, nem cabe no entendimento de outros sacerdotes!…
Essa
exigência e esse sentimento de que se está a falhar já provocaram vítimas, que
por medo, culpa ou vergonha, optam pelo suicídio, em vez de pedir ajuda, algo que acontece cada vez com mais frequência em
países como Brasil, Espanha, Itália, enfim, um pouco por todo o mundo.
O Pe Wally foi um dos casos que se tornou
bastante conhecido. Antes de se suicidar escreveu: «Parem de procurar em nós a
perfeição que só Ele possui. Para vocês somos outro Cristo; com vocês lutamos
pelo céu».
E não
adianta cometer o último dos injustos julgamentos, afirmando que “o que falta a
estes padres é vida de oração “. Isto é um reducionismo que desemboca na
calúnia ou, no mínimo, na maledicência. Mesmo as pessoas que vivem intensamente
a fé e uma sólida espiritualidade estão sujeitas ao esgotamento físico e à
necessidade de ajuda! Alguém duvidará que Simone Biles ou Michael Phelps não
treinavam arduamente e não tinham o desejo de chegar às medalhas? Há que, como
cristãos que somos, julgar menos e ajudarmos mais. Só assim viveremos com mais
coerência o cristianismo que dizemos professar e que tanto gostamos – mais que
tudo! – de cobrar aos outros.
Façamos o
que nos pediu o Pe. Wally poucos instantes antes de pôr fim à sua vida: «Por
Deus. NÓS NÃO SOMOS SUPER HERÓIS. Somos os mais miseráveis dos homens que Ele
quis para estar a serviço d’Ele. REZEM. REZEM INCESSANTEMENTE POR NÓS E, QUANDO
CAIRMOS, NOS AJUDEM: REZEM MAIS. Como sacerdote, peço que Nossa Senhora das
Dores interceda por todos os meus irmãos sacerdotes que mais sofrem. Que sofrem
disfarçados de sorrisos e que muitas vezes estão no fim do último sorriso».
Rezem por
nós.
Tavira,
4 de agosto de 2021
Memoria de São João Maria Vianney
In ECCLESIA 06.08.2021
Dina Matos Ferreira | 21 Mai 2022
Emanuel do Carmo Oliveira
Vendo o que está a acontecer agora na Rússia, não posso estar mais grato a quem me deixou como herança esta Igreja liberta das garras da Política.
Aborto e valores europeus
Vamos lá sinodalizar?!
o PS mente, o governo rouba, o povo paga