
O melhor seria
Dina Matos Ferreira | 21 Mai 2022
A realidade muito preocupante do suicídio
sacerdotal voltou a chamar as atenções nesta semana no Brasil e, a respeito
dela, diversos padres e religiosos têm se manifestado nas redes sociais.
Um dos mais contundentes comentários sobre
a gravidade deste panorama e sobre a carência de acompanhamento e apoio aos
padres nos seus momentos de maior fragilidade emocional está circulando pelas
redes sociais, atribuído à autoria de pe. Simeão do Espírito Santo. O texto tem
sido compartilhado por dezenas de sacerdotes, religiosos e leigos católicos.
Refletindo a opinião pessoal do autor, o
comentário compartilhado na rede é fortemente crítico a determinados aspectos
de estruturas institucionais da Igreja e as questiona porque, a seu ver, não
proporcionariam suficiente proximidade, fraternidade e solidariedade aos padres
no Brasil, particularmente no tocante ao drama do suicídio sacerdotal.
De fato, o Papa Francisco tem reiterado
com frequência que a Igreja não é meramente o conjunto das suas estruturas, mas
sim o próprio Corpo de Cristo, do qual somos todos, misticamente, membros
vivos. O Papa também alerta regularmente para o risco de que, mesmo dentro da
Igreja, se incorra na “cultura do descarte”. Com esta referência em mente, é
importante levar em consideração o desabafo atribuído a pe. Simeão do Espírito
Santo a fim de se promover um debate objetivo e transparente sobre o seu
conteúdo.
O texto
Eis o comentário que está sendo compartilhado nas redes sociais
católicas a propósito do suicídio sacerdotal e de contextos
relacionados:
“Não sei mais o que escrever, não sei mais
como exprimir a dor que eu sinto quando recebo a notícia de suicídio de mais um
padre. Rezar e escrever me ajudam, mas ainda não é o suficiente…
Estamos no início de novembro e o suicídio
do padre José Alves é o nono este ano [só no Brasil]…
Cada
sacerdote que tirou sua vida esse ano tinha um rosto, uma história, um
sofrimento, uma dor, uma vocação, um sonho. O que lhes faltava? O que não foi
feito por estes irmãos? Onde erramos? Até onde vai a responsabilidade pessoal?
Há uma responsabilidade eclesial? Por que os padres estão se assassinando?
Quantos mais precisarão morrer para a Igreja católica no Brasil acordar? Por
que continuamos inertes, indiferentes e omissos? Os suicídios sacerdotais em
série, no Brasil, revelam, em parte, a doença, a ineficiência e a hipocrisia da
estrutura clerical”.
Suicídio sacerdotal e o caso do pe. José Alves
O texto do pe. Simeão trata então do caso
do pe. José Alves, encontrado morto neste domingo.
A informação oficialmente divulgada é de que a causa da morte está sendo
investigada, mas desde a segunda-feira circulam extraoficialmente informações
de que teria sido mais um caso de suicídio sacerdotal.
O texto do pe. Simeão também aborda a
problemática das denúncias não comprovadas de abusos sexuais perpetrados por sacerdotes
e de como lidar com elas durante o necessário processo de investigação,
enquanto ainda não se tem certeza da veracidade das denúncias:
“A diocese de Bom Jesus do Gurgueia havia recebido uma
acusação contra o padre José. O teor da denúncia era de abuso sexual com menor.
Nada foi comprovado. O padre foi suspenso de ordens ‘ad cautelam’ no último dia
6, através de um decreto. Sim, sabemos que, após centenas de casos de pedofilia
no mundo, desde o Papa Bento XVI e agora com o Papa Francisco, a cultura do
silêncio está sendo quebrada e as orientações são muito claras. O bispo da
diocese pode ter aplicado a lei pela lei e, apenas com a denúncia da acusação
(ainda que não tenha sido provada), o padre tinha sido suspenso.
Irmãos padres, qualquer sacerdote pode
passar por isso. Qualquer denúncia, mesmo sem prova, chegando ao bispo
diocesano, pode acarretar a mesma suspensão recebida pelo padre José.
Penso em irmãos que eu conheci, que foram
suspensos sem poderem fazer absolutamente nada. Irmãos que eram e sempre foram
inocentes. Temos um caso de suicídio, aqui no Brasil, de um religioso, em 2013,
que, sendo acusado injustamente, não conseguiu suportar o peso de tal
sofrimento e se enforcou no quarto com o próprio cíngulo. Quantos de nós fomos
acusados levianamente!?
O
padre José foi encontrado morto, em sua casa paroquial, no último domingo.
Pergunto-me: a diocese ou pastoral presbiteral estava cuidando dele após a
suspensão? Se ele não podia mais celebrar, por que ficou sozinho na casa? Há
algum acompanhamento jurídico, psicológico, espiritual, episcopal ou
presbiteral para os padres que são suspensos ‘ad cautelam’?”
Aspectos organizacionais e institucionais da Igreja
O texto do pe. Simeão passa a questionar a
postura de uma parte da Igreja do ponto de vista organizacional, evocando os
recorrentes alertas do Papa Francisco sobre a necessidade de superar as
rigidezes estruturais quando elas não ajudam de fato a Igreja a ser Igreja,
seja no contexto do suicídio sacerdotal, seja no tocante a outros aspectos da relação
entre pessoas. Eis o que diz o texto:
“Antes da sua morte, padre José escreveu em suas redes
sociais: ‘Eu Amo a Igreja’. Ah, padre irmão, eu entendo sua afirmação.
Escutamos isso o tempo todo do seminário, né? Amamos a Igreja, padre; mas a
grande verdade é que a igreja não nos ama. O único que nos ama é o Cristo,
Cabeça e Esposo da Igreja.
Na vida de todo padre há de chegar um
momento em que ele ficará sozinho. Teremos apenas Jesus! E, mesmo Ele nos
bastando, ao sermos abandonados, esquecidos, e alguns de nós caluniados e
acusados por bispos, padres e leigos, precisaremos pensar em nós mesmos.
O suicídio não vale como martírio, irmãos
padres! Sei, porque escuto, que muitos padres pensam em tirar a própria vida.
Em um país latino-americano aqui vizinho, padres estão tirando a vida em grupo;
mas essa não é a resposta. Esse não é o caminho! Faço uma confissão pública: em
um momento de extremo sofrimento, há uns três ou quatro anos, quando eu pedi um
tempo de afastamento do exercício do ministério e tive também o pensamento de
morte na cabeça, cheguei à seguinte conclusão: ‘É melhor um sacerdote vivo do
que um padre morto’. Sacerdotes sempre seremos, exercendo ou não. Padre é outra
história…
Por favor, irmãos padres, pensem em vocês!
Parem de pensar na Igreja em primeiro lugar. Na estrutura da Igreja romana no
Brasil não existe tempo nem prioridade para o cuidado sacerdotal. Somos
empresários e empregados de batina. Não é suficiente amar a Igreja. Apenas isso
não é possível para continuar vivo diante dos inúmeros desafios sacerdotais que
este tempo nos impõe. O máximo que a Igreja consegue fazer é rezar por nós. Ela
dificilmente acolhe, raramente escuta, não sabe cuidar, não tem tempo para
amar. Não nos procura como filhos; dificilmente a Igreja vai te ajudar. Ela se
comunica conosco por decretos, papéis, provisões e excomunhões. Os bispos já
nos trocam de paróquia pelo Whatsapp e telefonemas. Os padres viraram
funcionários das mitras diocesanas. São conhecidos pelos números do CNPJ das
paróquias que administram. Para vocês só chegarão os boletos das mitras, os
envelopes das campanhas da CNBB e o número da conta do bispo para as espórtulas
das crismas… O que vale a vida e a história de um padre? O que está escrito no
Código de Direito Canônico! Ele vale mais que o Evangelho. Ele é punitivo. O
último cânone nunca é aplicado na vida do padre!
Padre irmão que ainda não se suicidou,
continue amando a Igreja; mas, por favor, se ame primeiro. Se alguma coisa
acontecer com você, justa ou injustamente, você tem grande chance de ser
descartado através de um decreto frio e impessoal. Ame a Jesus! Converse com
Ele! Não espere o bispo lhe perguntar como está. Não crie expectativa sobre a
fraternidade sacerdotal. Ela existe, na maioria do clero, só no papel. Ame-se!
Se ame primeiro. Ame-se antes de amar os superiores e os irmãos padres.
Lembre-se que haverá um momento que será só você e Ele. Todos deixarão você. As
acusações e o que podem colocar de você nas redes, possivelmente, valerão mais
do que tudo que Deus lhe deu a graça de realizar fielmente em todos os seus
anos de ministério. Os conselhos presbiterais não conhecem você. Para a grande
parte deles, você já está até morto…
Ah,
irmão padre, não se mate. Não seja o décimo da lista de 2021! Você sabe que
nenhum dos ordinários locais dos outros nove falaram nada? Se você se matar, no
outro dia, alguém vai ser mandado para o seu lugar. Você será lembrado apenas
nas missas em que alguém colocar o seu nome nas intenções. Com alguns dias, o
Instagram e o Facebook não mais falarão de você. Foi assim com o padre Ruben,
Adriano Henrique, Milton, Marco Antônio, Mauro Jorge… e todos nesse ano. E
todos celebraram, usaram casulas, absolveram pecados, batizaram, assistiram
casamentos”.
Suicídio sacerdotal: “não seja o décimo”
O texto assinado pelo pe. Simeão passa
então a exortar os sacerdotes a buscarem ajuda quando sentirem a tentação de
dar fim à própria vida:
“Padre, não seja o décimo… Peça férias, peça um ano
sabático. Vá para a casa dos seus pais. Deixe a paróquia. Você não vai morrer
de fome. Eu sou testemunha disso. Peça transferência de paróquia ou diocese.
Busque a vida religiosa ou se incardine em uma diocese. Mude de rito, de tradição.
Mude de país. Vá fazer missão, mas não se mate. Nada vai adiantar com a sua
morte. Para alguns bispos, vai ser apenas menos um ‘problema’. A maior parte
dos padres nem vai se lembrar de você quando o seu nome for retirado do anuário
ou do site da diocese.
Padre, por favor, não se mate por amor à
Igreja. Essa igreja não merece nossa morte. Ela precisa de nossa vida, ainda
que escondida e insignificante para o alto clero. Não diga sim aos homens, diga
sim a Deus! Mude de Estado ou até de estado de vida; mas, por favor, não se
mate.
O Papa Francisco nunca saberá a verdade. A
nunciatura não vai te ajudar. Se um dia a CNBB fizer algo pensando nos
potenciais padres suicidas, você vai ser somente um número do passado. Se ame,
padre!
Padre, procure ajuda. Se o seu bispo não o
ajudar, ligue para um padre. Vá até um confessor, procure um diretor. Vá até o
médico, padre. Comece, por favor, uma terapia. Temos muitos padres e
consagrados psicólogos. Reze, padre; mas se ame. Se alimente, se divirta,
durma, diminua a marcha. Não espere ajuda fora. Primeiro, comece em você. Mude
por dentro. Ame sua humanidade e o ministério sacerdotal. Grite, irmão. Pare.
Deixe o celular e vá rezar. Leia, padre. Confesse, padre. Vá ao hospital e
brinque com as crianças, visite os casais, escute os idosos, fique diante do
sacrário. Não se mate. Não compre remédios nem cordas. Não coloque fim na sua
vida antes do tempo.
O Bom Pastor quer você vivo. E lembre-se
da oração: ‘Na hora da morte, chamai-me e mandai-me ir à Vossa Presença’. Não
vá antes da hora, não antecipe nem um só dia. Precisamos de você. Ele ama você!
Ele amou e sempre amará você. E, se um dia, eu tiver um lugar aqui para
acolhê-lo, venha ficar comigo. Prometo cuidar de você junto com irmãos que o
acolherão e amarão.
Não se mate, padre, não seja o décimo, por
favor!
Nossa Senhora, coloque a mão nesta lista e
a cancele, por favor. Maria, Mãe dos Sacerdotes, rasgue essa lista dos padres
suicidas no Brasil. Agora e até a hora da nossa morte. Amém!”
Francisco Vêneto, In Aleteia 10.11.2021
Dina Matos Ferreira | 21 Mai 2022
Emanuel do Carmo Oliveira
Vendo o que está a acontecer agora na Rússia, não posso estar mais grato a quem me deixou como herança esta Igreja liberta das garras da Política.
Aborto e valores europeus
Vamos lá sinodalizar?!
o PS mente, o governo rouba, o povo paga