
Pe. João António Pinheiro Teixeira
A felicidade aumenta a produtividade
A publicação esta semana do
relatório da comissão independente, à qual a igreja católica portuguesa
encomendou um levantamento dos abusos históricos, gerou uma onda de justificada
indignação nacional que espelha bem a referência moral que a igreja católica
continua a ser para a esmagadora maioria dos portugueses, crentes e não
crentes.
Por mais que a incidência do tipo de comportamentos ignóbeis em questão seja igual ou até menor entre pessoas consagradas do que entre leigos e outros cidadãos, designadamente em ambiente familiar, escolar, desportivo e prisional, a verdade é que a sociedade não tolera, e bem, que seja quem for de entre os dirigentes duma instituição que, não obstante a guerra sem quartel que lhe movem desde que foi criada, continua a ser a referência moral histórica da nossa civilização, tenham miseravelmente abusado da inocência de pelo menos cinco mil menores nos últimos setenta anos.
É portanto legítimo que a sociedade exija que os responsáveis da igreja católica indemnizem as vítimas que ainda o podem ser, e lhe deem a honra de o aceitarem, que reconheçam e repudiem a cobardia que esteve na origem do imperdoável encobrimento, sem o qual os abusadores não teriam tido a ocasião de repetir os abusos, e que façam um exame de consciência e encarem de frente a falta de fé que germina nas suas fileiras, em todas as gerações.
Isto dito, esta é também a hora para darmos graças
pelos milhares de pessoas consagradas que, não obstante ventos e tempestades,
continuam a remar contra a maré, dando testemunho do Bem, da Beleza e da
Verdade e, mediante esse testemunho, a suscitar o que há de melhor na nossa
sociedade em termos de entrega abnegada aos outros, especialmente aos pobres,
aos doentes, aos prisioneiros e aos descartados.
E em particular para darmos graças pelo celibato
das pessoas consagradas, nomeadamente dos sacerdotes que, à imagem e na pessoa
de Cristo celibatário, nos permitem participar em todas as missas no mesmo acto
de redenção pelo qual os homens que caiam em si têm doravante a certeza do
perdão.
Deus não incarnou para nos desvendar o mistério da
dor que sofremos e que causamos, tantas vezes contra a nossa vontade, mas para
a partilhar connosco e para a redimir, fazendo dela uma ferramenta de salvação
própria e alheia, e é a intuição dessa verdade profunda, de que a igreja
católica é depositária, que inspira o respeito de todos os que a compõem, e a
admiração dos que, embora não a integrando, a conhecem de boa fé.
A nossa ascensão a estado soberano há quase 900
anos, a nossa história desde então e a nossa identidade actual são
absolutamente incompreensíveis sem a igreja católica, à qual continuamos
ligados por laços muito fortes mesmo quando a criticamos, ou até quando lhe
dedicamos um ódio de estimação.
São responsabilidades obviamente demasiado pesadas
para as forças meramente humanas dos católicos consagradas ou leigos que dão a
cara pela igreja no nosso presente coletivo, mas que ainda assim são exequíveis
porque a fé consegue mover montanhas.
A forte coesão social e consequente segurança que
caracterizam o nosso país, nos causam saudades quando dele temos que sair e a
ele atraem tantos estrangeiros que nele querem por isso viver, apesar da
extrema pobreza e dependência causadas por levas sucessivas de políticas erradas,
seriam certamente muito menores se não fossem as obras de misericórdia que a
igreja católica pratica, o culto divino que assegura e a oração incessante das
ordens contemplativas.
São milhões e milhões os portugueses e portuguesas
vivos cujas consciências foram formadas por presbíteros, religiosos e
religiosas de fé bem alicerçada, os mesmos que encontramos não só nos altares e
nos confessionários, nos púlpitos e nas salas de aula como também, e sobretudo,
nos lares, nos hospitais, nas prisões e debaixo das pontes, em todos os locais
onde vivem solitariamente os que mais sofrem.
A igreja católica portuguesa não deve pois
desanimar com a onda de justificada indignação que causou a publicação do
relatório da comissão independente, muito menos deve fazer mais cedências
doutrinárias para apaziguar os que a perseguem porque não toleram a sua
fidelidade à chave do bem e do mal de que é guardiã, enquanto instituição
transcendente.
Deve antes confessar-se, penitenciar-se e depois
levantar a cabeça e continuar a prestar um culto divino cada vez mais belo, a
orar com mais fervor, a pregar com firmeza a verdade sobre o Criador e a
Criação, e a praticar humildemente obras de misericórdia.
A felicidade aumenta a produtividade
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“As ruas e as praças de Lisboa não pertencem apenas aos sindicatos e não são propriedade da extrema-esquerda. Até os Católicos se podem manifestar, porque há separação entre a Igreja e o Estado.”
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