Carta aberta à nação católica

João Gonçalves, In Jornal de Notícias, 27/03/2023

Não tencionava voltar tão cedo a este assunto. Todavia, os últimos desenvolvimentos na aplicação do relatório da comissão independente para avaliar setenta anos de abusos na Igreja portuguesa obrigam a minha consciência de católico a ir mais longe. É que, entretanto, ficámos a saber que a hierarquia católica aceita denúncias e acusações anónimas para suspender ordenados das suas funções sacerdotais. Por outro lado, há membros da comissão que se transportam em entrevistas nas quais ajudam a enlamear a honra da Igreja - que não é constituída apenas por sacerdotes, e por isso intitula-se católica -, com tiradas de mero efeito mediático, imediatamente cavalgadas por um jornalismo insolente e acéfalo. Refiro-me concretamente aos drs. Daniel Sampaio e Laborinho Lúcio, ambas eminências pardas do regime, e que, respectivamente, para além da medicina e do direito, também são ficcionistas. Strecht, pelos vistos, é mero correio de entrega das listas dos alegados abusadores à Igreja, e estes dois estão encarregados de espalhar a boa nova definitiva e executória. É um direito deles, todos. Mas é um dever nosso, católicos, de não nos deixarmos cair na tentação da superficialidade, da má-fé e do jacobinismo "pós-moderno" sob a capa das melhores intenções. Tal como não podemos ser tolerantes em relação aos abusos - na Igreja, na família ou em qualquer outro organismo social -, assiste-nos o dever moral e, se necessário, jurídico, da intransigência na defesa dos nossos da iniquidade e da injustiça. A própria comissão não está acima da lei, nem é a lei. O professor Carlos Blanco de Morais, da Faculdade de Direito de Lisboa, e a professora Mafalda Miranda Barbosa, da de Coimbra, foram bem claros em textos corajosos publicados numa rede social. Não podemos aceitar "denúncias anónimas condimentadas por uma imprensa sectária" que, nomeadamente, "um Patriarcado de Lisboa, pusilânime, patético, errático e sem cerviz", admite. "Não é graças a este "Alto Clero", que não sabe investigar nem punir quando deve e a quem merece, que nos mantemos cristãos." E a professora Miranda Barbosa pergunta: "não se conseguindo provar a prática dos factos imputados anonimamente aos sacerdotes, estará a comissão, atenta a violação grosseira das mais elementares regras da investigação e da salvaguarda de honra, disposta a indemnizar os lesados? Uma garantia os seus membros terão, pelo menos: o acesso ao contraditório viabilizado pelos tribunais". A nação católica terá, pois, de sair à rua. Se a maioria silenciosa se diz católica, então seja coerente e não cobarde ou fútil. É a hora de nos erguermos contra este terrorismo manipulador, alimentado pelas "elites" e pela opinião que se publica. A esperança de Deus prevalecerá sobre a igreja do culto político.

O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA

Publicado em 2023-03-29

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