ANTÓNIO SÍLVIO COUTO

Tesouro em vasos de barro… (MISSIVA DESPRETENSIOSA AO PAPA FRANCISCO)

TESOURO EM VASOS DE BARRO…

(MISSIVA DESPRETENSIOSA AO PAPA FRANCISCO)

Ao querido Papa Francisco, que tanto tem feito, nestes quase seis anos de pontificado, para que a Igreja se possa tornar mais e melhor sinal da presença de Cristo no mundo, ouso escrever um sofrido desabafo, que é muito mais do que um mero suspiro desencantado!

No seguimento daquilo que Bento XVI vinha fazendo, o santo Padre tem enfrentado variados obstáculos quanto ao escândalo dos ‘abusos sexuais’ de alguns membros do clero… em muitas partes do mundo.

A catadupa de casos fez do Vaticano uma nova espécie de ‘muro das lamentações’, sobretudo das vítimas individuais ou agrupadas em associações ao longo da universalidade da Igreja.

O mais recente momento da ‘cimeira’ sobre o assunto, realizada por estes dias, trouxe, novamente, à ribalta acusações, impropérios e suspeitas quase desmesuradas.

= Santo Padre, por breves, momentos senti que todos os padres – os prevaricadores e os não-acusados – estavam sob a inexorável espada de Dâmocles sobre as suas cabeças, na medida em que cada um é um potencial acusado… e ninguém – ao que parece – é insuspeito.

Ora, isto é assaz perigoso, pois se pode confundir réu e vítima, tornando-se esta um potencial criador de acusados, senão no conteúdo ao menos na forma…

= Santo Padre, há muitos padres que sofrem e rezam para que esta vaga de pecado dentro e fora da Igreja seja vencida pela força do testemunho.

Com efeito, muitos padres procuram viver a sua entrega a Deus, na Igreja; muitos – senão a maioria – fazem esforço de fidelidade em serem presença divina neste mundo erotizado; tantos e tantos viveram a sua juventude e idade adulta numa atitude de missão – não de meros castrados, mas de celibatários pelo Reino de Deus – nem sempre compreendida por todos os que procuraram servir; por isso, é uma provação e purificação para uma multidão silenciosa de padres verem postos em causa os anos de formação, de encanto e de serviço, pela simples razão de que uns poucos praticaram crimes lesivos de tantas crianças, adolescentes e jovens… ontem, lidos no hoje e repercutindo-se no amanhã.

= Santo Padre, lemos, escutamos e aceitamos os ’21 pontos de reflexão’ propostos aos participantes no encontro sobre ‘proteção de menores’; acolhemos como força de definição os 8 pontos da linha de ação para a Igreja católica, que nos foram apresentados após aquela cimeira.

No entanto, deixamos, com humildade e confiança, uma sugestão, tirada dos textos bíblicos.

Diz-nos São Paulo – trazemos em vasos de barro o tesouro do nosso ministério (2 Cor 4,7). De verdade sabemos que esta constatação nos faz acreditar que o dom do sacerdócio ministerial é mesmo uma dádiva divina, aceitando, discernindo e vigiando para que o mal não nos seduza… nunca e tão pouco nas horas de crise!

Por outro lado, recordamos essa passagem tão simbólica do pastor que vai à procura da ovelha que anda dispersa… Só que hoje não é uma, mas noventa e nove, as que se transviaram…

E muitos deles poderão ser padres, ofendidos, maltratados e escorraçados por intransigências de muitos dos seus responsáveis… sem esquecer as (in)suspeitas do que possam contatar com algum dos padres.

= Santo Padre, os que não pecaram – nisto que tem ocupado tanto o foco da Igreja, embora sejam sempre pecadores – precisam de ser acarinhados, para que não se tornem vítimas de discriminação como o foram os ‘abusos’, que tanto reclamam da Igreja católica.

Na humildade de padre há quase trinta e seis anos, Santo Padre, que a Verdade nos liberte e nos guie, na fidelidade a Deus nesta Igreja que amo e sirvo… neste tempo e contexto terreno!

 

António Sílvio Couto, IN DM 04.03.2019

Publicado em 2019-03-04

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