Pe. João António Pinheiro Teixeira
A felicidade aumenta a produtividade
A eventual atribuição de verbas para premiar
a gestão dos membros executivos do Conselho de Gestão do Novo Banco é,
«parafraseando o papa Francisco», constitui um exemplo concreto de «uma
economia que mata», considera o presidente da Cáritas Portuguesa.
«Por respeito para
com os milhares de portugueses que perderam a totalidade ou parte dos seus
rendimentos, apelo, na minha condição de simples cidadão, a que estes “prémios”
sejam dispensados em nome da justiça social e da solidariedade; a mesma que o
povo português foi obrigado a ter para viabilizar o dito banco e os postos de
trabalho que, assim, se conseguiram salvar», escreveu Eugénio Fonseca em artigo
no “Público”.
O responsável começa
por lembrar que «há uma parte significativa da população portuguesa, para além
das já mais de 17% que vivem na condição de pobres, afetada por carências
extremas tão elementares como o acesso à alimentação, não tendo
possibilidades financeiras de assegurar, sequer, as três refeições fundamentais
a toda a família».
As consequências da
pandemia a nível económico, nomeadamente a diminuição dos salários e a
supressão do posto de trabalho, contribuíram para tornar «escassa a
possibilidade de dispor de rendimentos pecuniários que consigam manter o
pagamento das rendas de casa que, para muitos, têm preços desproporcionais aos
salários auferidos, assim como o acesso a outros bens que são indispensáveis a
uma subsistência dignamente básica como água, gás e eletricidade».
«Quem vive nesta
situação, assim como quem acompanha pessoas na procura dolorosa de meios para
suprir parte das dificuldades que está a viver, não pode ficar indiferente e
até mesmo deixar de manifestar a sua indignação, ao saber que o Novo Banco tem
destinados dois milhões de euros para premiar a gestão dos membros
executivos do seu conselho de administração», sublinha.
Depois de recordar
que o banco «nunca deixou de acumular milhões e milhões de prejuízos
suportados, por enquanto e em larga medida, pelo dinheiro dos
contribuintes», o responsável considera que essa opção, «particularmente num
tempo de tão grandes constrangimentos financeiros, seria sempre expressão de
uma falta de sentido ético na construção do bem comum».
«Mais indecoroso se
torna quando se trata, de facto, de uma instituição bancária que tem
sobrevivido, para absorver os seus reiterados prejuízos acumulados de milhares
de milhões de euros, à custa dos impostos de milhares e milhares de
trabalhadores que, mesmo com salários de miséria, também produzem muito e em
condições, por vezes, muito mais adversas para a saúde e a conciliação com a
vida familiar», acentua Eugénio Fonseca.
A expressão «esta
economia mata» foi usada pelo papa Francisco na exortação apostólica “Evangelii
gaudium”, sobre o anúncio do Evangelho (24.11.2013), ao referir-se a mecanismos
económicos de «exclusão» e «desigualdade social», causados pela «negação da
primazia do ser humano».
Rui Jorge Martins
Fonte: Público
Imagem: annastasiia7/Bigstock.com
Publicado em 21.05.2020
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