Inquisição – Quantos mortos?

Cón. Manuel Maria, In A Defesa 27.05.2020

É comum ouvirmos e lermos, na literatura secular, em filmes e documentários, em Escolas Secundárias e até em Faculdades e Universidades, a afirmativa de que a Igreja católica torturou e matou milhares (há quem diga milhões) de pessoas pela Inquisição. E o mesmo é dito quanto às igrejas protestantes que, no século XVI e seguintes, levaram à morte mais de 30.000 camponeses rebatizados em adultos (em oposição à reforma luterana) na Alemanha, mandaram para a fogueira, num período de seis anos (1555-1561), mais de mil mulheres na Escócia e decretaram a forca às “300 bruxas de Salem”, nos Estados Unidos. 

Para resolver estes e outros problemas, realizou-se um Simpósio no Vaticano nos dias 29-31 de outubro de 1998 a pedido do então papa João Paulo II. Era urgente encontrar a verdade, para que tivesse sentido o perdão que a Igreja católica pediu ao mundo. Foram abertos os arquivos da Congregação do Índice no que diz respeito à Inquisição. Trinta especialistas e investigadores católicos e não católicos debruçaram-se sobre os documentos até então guardados a sete chaves. As Atas deste Simpósio foram reunidas em livro de 783 páginas e estão publicadas. 

Sobre a Inquisição – que fez muitas coisas más, ainda que devam ser lidas com a mentalidade da época – temos agora muitas certezas. Refiro duas. Sabe-se que quase tudo o que historicamente se divulgou a respeito da Inquisição é fruto das calúnias difundidas pelo ex-padre Juan Antonio Llorente, um apóstota, que difundiu números exorbitantes de condenados à fogueira durante os 356 anos de inquisição espanhola. Sabe-se também que dos 125.000 processos ocorridos em toda a sua história, os tribunais da Inquisição espanhola condenaram à morte 59 mulheres acusadas de bruxaria (a propaganda fala em milhões). Quem quiser saber a verdade sobre a Inquisição leia as Atas do Simpósio. Mas deixem-me dizer que bastaria a morte de um só inocente para termos razões de sobra para pedir perdão. Em Évora, no dia 22 de Outubro de 2016, foi colocada uma lápide redonda, em mármore branco, no chão da Praça de Giraldo, em frente à Igreja Santo Antão de cujo adro se fizeram leituras públicas de condenações judiciais do Tribunal da Inquisição. 

O evento permitiu que o senhor Presidente da Câmara – atento às maldades que a Inquisição fez entre 1536 e 1821 (285 anos) – tivesse proferido estas palavras: «Assistimos hoje a fenómenos que se não afastam muito de outros que aconteceram em Portugal. Há formas de censura, como a tentativa de impor pensamentos únicos e a eliminação física de quem pensa diferente. Temos muito que refletir na projeção do futuro, para que estes fenómenos não voltem a acontecer e os existentes não demorem a desaparecer». Na lápide lê-se: «Homenagem de Évora às vítimas da Inquisição portuguesa e a todas as intolerâncias nos 480 anos da criação em Évora da Inquisição 1536-2016». 

Foi, de facto, criado em Évora o Tribunal do Santo Ofício no dia 22 de Outubro de 1536, depois de o papa Paulo III o ter concedido em 23.05.1536 ao Rei D. João III por pedido insistente deste. O Tribunal do Santo Ofício (ou Inquisição), então criado, só foi extinto em Portugal no dia 31 de Março de 1821.

Cón. Manuel Maria, In A Defesa 27.05.2020

Publicado em 2020-05-29

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