“O GROTESCO TOMOU CONTA DA VIDA REAL”

Carlos Aguiar Gomes

O título deste meu escrito, “roubei-o” a um artigo de José António Saraiva que publicou no semanário SOL de 15 de Agosto. Achei que resume lapidarmente a situação cultural, e não só, do mundo actual. Basta olhar à nossa volta, e sem qualquer esforço constatamos, a triste e grotesca realidade, de que o citado autor tem razão. E eu concordo.

Já todos reparamos no regresso ao primitivismo dos “piercings” em todo lado dos corpos, visíveis e tapados! E nas tatuagens em tudo o que é superfície de pele, com motivos em que o bom gosto foi banido. Ocupam a pele com desenhos absurdos que, para mim, frequentemente me enojam, pois me repugnam.

Já todos viram o que muitas pessoas “vestem” … tudo, mesmo os modelos mais estapafúrdios: compridos a trás e curtíssimos à frente ou ao contrário. Ou alternadamente curtos e compridíssimos. Rotos por todo o lado. Remendados ao acaso e não por necessidade da pobreza, mas por extravagância da “moda” (modelos caros, ainda por cima!). Roupas que nos remetem para falta de um correcto acabamento, por exemplo, com bainhas esfarrapadas e irregulares, com fios pendentes.

Cabelos “cortados” e pintados das formas mais bizarras, onde a imaginação do disforme não tem limites…

Já repararam no tamanho desmesurado de algumas unhas e nas múltiplas cores com que são pintadas? Pergunto-me muitas vezes, como alguém com aquelas “garras” pode trabalhar!

E a chamada “arte de rua” com prédios riscados com frases “non sense”, chamados “grafittis” que sujam fachadas de tantos monumentos, com total falta de respeito, os estragam e deformam e cuja limpeza custa bastante ao erário público/ privado? Quando não são frases insultuosas para quem passa ou para as suas crenças…

O grotesco tomou conta da vida real”!

O que são determinados desfiles, fora do Carnaval, para afirmar orgulho de determinadas “orientações sexuais”? Como todos nós temos uma “orientação sexual”, imagine-se o grotesco se todos desfilássemos, grotescamente vestidos, para nos afirmarmos sexualmente!

O grotesco saiu à rua. E anda na rua perante a nossa indiferença acomodada e que se “lava” com o chavão: “Agora é assim!”.

A vida real e autêntica anda deformada. Grotesca. E pavoneia-se perante a indiferença acrítica da maioria que se silencia por cobardia.

Já todos, creio, reparamos nos objectos decorativos (?), a que chamam esculturas, espalhados em tantos dos nossos centros urbanos, e que não passam de calhaus amontoados, disformes e ridículos, sem sentido. Grotescos. Brutos. Insultuosos. Desarmónicos. Monstros “pré-Pré-Históricos”. Mas aí estão, espalhados em tantas urbes, para embebecer os “intelectuais” sinistros.

A Música, mesmo a dita Clássica, também não escapa ao grotesco ruidoso, desarmónico e agressivo.

Bem sei que, como se diz, “o gosto é relativo” e é por isso que “o grotesco tomou conta da vida real”. Afirmar o contrário é “fascista”, “reaccionário”, “supremacista”, “racista”, “machista”, “homofóbico”, “etnocista” e outros, muito mais “istas” com que me vão apelidar e apelidam os “polícias do pensamento único” que andam por aí apoiados na nossa indiferença e com a anuência e conivência de muitos “media”.

“O grotesco tomou conta da vida real”!

O “politicamente correcto” ordena-nos que nos calemos e nos tornemos medrosos de afirmarmos, respeitando os diferentes gostos e preferências, mas não deixando de sermos claros quanto à nossa discordância quanto a esta invasão do grotesco no quotidiano com que nos cruzamos indiferentes como se o grotesco fosse equivalente ao bom senso.

Quanto a mim, continuarei a dizer:” O grotesco tomou conta da vida real”.

Carlos Aguiar Gomes, In DM 27.08.2020

Publicado em 2020-08-31

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