Pe. João António Pinheiro Teixeira
A felicidade aumenta a produtividade
Os três homicídios na Nossa Senhora da Assunção em Nice são uma loucura
cruel, um ato de injúria, uma blasfémia. Quem se demora numa igreja é um manso
que se apresenta ao Senhor e procura proteção na casa dedicada à Virgem. Assim
eram as duas mulheres (uma dos seus 70 anos) e aquele homem. Era o sacristão da
basílica oitocentista, construída a partir do modelo da Notre Dame de Paris. O
assassino não viu nelas seres humanos, mas, cego pelo ódio, delas fez o símbolo
de gente ímpia, inimigos do islão, porque cristãos. Gritou «Deus é grande»,
louvor reduzido a slogan dos terroristas islâmicos, blasfémia manchada de
sangue também para os muçulmanos. A Igreja tinha feito alguma coisa contra ele?
Não, seguramente.
Mas os cristãos são atingidos como símbolo da Europa inimiga. E, no
entanto, o assassino tinha chegado recentemente à Europa. Todavia, odiava-a.
Odeia-se a si mesmo e não sabe quem é. Assim, com um gesto insano, fez-se
“combatente” contra os inermes, esperando sair do anonimato e aureolar-se de
heroísmo e, talvez, de martírio. Mas mártires são as suas vítimas. Ontem,
outros em França tentaram fazer-se “heróis”, tentando matar vilmente, mas foram
travados. Estão em guerra contra a França e a Europa, que os acolheram. Não é a
primeira vez que os terroristas atingem a Igreja. Em 2016 mataram no altar, em
Rouen, o padre Jacques Hamel, de 85 anos, sequestrado com alguns fiéis. Sem
piedade.
As três vítimas de Nice são filhas de um povo humilde que, em silêncio e
com tenacidade, repõe em Deus a sua confiança: vai à igreja e reza por si e por
todos. Não participa apenas na missa, mas passa na igreja um momento, buscando
no silêncio a presença do Deus da paz e do amor. Aí está a fonte da fé que
acompanha todo o dia os mansos visitadores da casa do Senhor. A oração de um punhado
de justos sustenta e salva o mundo, ensina um santo do Oriente. Não é
necessário incomodar os ascetas. Os justos são os três mortos na igreja que,
com a oração de quem visita a igreja, sustenta o mundo.
Nada justifica a
violência, mas é preciso lutar contra os maus mestres, os fomentadores do
ódio, abrindo alternativas para os jovens e desesperados. Os cristãos europeus, em dificuldade como
todos devido à pandemia, tocados por vários problemas, atingidos por atos de
violência, têm de reencontrar a audácia evangélica |
Durante o incêndio de Notre Dame de Paris, em 2018, muitos tiveram uma
dúvida: o fogo da catedral não simbolizaria, talvez, uma Igreja que se
extingue? A Igreja pode ser hoje atingida por problemas, por vezes fatigantes.
Mas um povo humilde, nas pregas do quotidiano, confia no Senhor. Os três caídos
em Nice não são restos do passado, mas premissas do futuro. Da fidelidade à
oração por parte dos justos, não tanto dos projetos, nasce a Igreja de amanhã.
As reações da Igreja francesa foram dolorosas e pacatas: a gritaria serve
para atiçar os fanatismos.
A Igreja, humildemente, poderá ajudar a Europa a encontrar o caminho num
tempo difícil por causa da pandemia e a complexa convivência entre diferentes.
Não é de hoje que o papa e a Igreja mostram como não pode haver fechamento aos
refugiados, e é preciso concretizar vias legais, as únicas a dar segurança.
Ao contrário, demasiadas vezes, fechou-se a porta e deixou-se prosperar a
ilegalidade, “investiu-se” politicamente nela, enquanto tantos morriam no
Mediterrâneo. E depois há as periferias anónimas sem comunidade, onde escola e
professores são a única presença educativa (e a que preço!). É necessário
investir em refazer o tecido humano das periferias, para que sejam capazes de
integrar.
Nada justifica a violência, mas é preciso lutar contra os maus mestres, os
fomentadores do ódio, abrindo alternativas para os jovens e desesperados. Os
cristãos europeus, em dificuldade como todos devido à pandemia, tocados por
vários problemas, atingidos por atos de violência, têm de reencontrar a audácia
evangélica.
Nice fala à França, mas também a vários países europeus. Está voltada pra o
Mediterrâneo, é banhada pelas contradições deste mar: as graves tensões
políticas especialmente na margem sul, as migrações. O sangue derramado de três
cristãos, humildes e desarmados, é uma semente de paz. Faz-nos esperar por um
despertar das consciências por uma sociedade mais fraterna, no momento em que a
França entra no confinamento. Faz-nos acreditar que sejam possíveis novas
relações neste Mediterrâneo atormentado.
Andrea Riccardi
Historiador
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Maartins
Imagem: D.R.
Publicado em 30.10.2020
A felicidade aumenta a produtividade
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