
The Social Dilemma
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Yuval Noah Harari é
professor da cadeira de História do Mundo na Universidade Hebraica de
Jerusalém, e, nessa qualidade, deu recentemente à estampa uma trilogia de
ensaios, cujos títulos, Sapiens – História Breve da Humanidade, Homo Deus –
História Breve do Amanhã e 21 Lições para o Século XXI, venderam milhões de
exemplares em todo o mundo, Portugal incluído. Não admira, pois, que este autor
seja um dos mais aclamados e influentes pensadores do nosso tempo, face ao
êxito conseguido com os seus trabalhos.
Acontece, porém, que a sua
extraordinária saga ensaística – não só quanto ao volume (mais de 1.300
páginas), mas também quanto à pertinência dos conhecimentos evidenciados (origens
do homem, cultura e mentalidade, sistemas políticos e económicos, desafios da
biogenética e da inteligência artificial, disrupções tecnológicas, etc.) –,
tece vários juízos erróneos acerca da história e da identidade cristãs.
Passarei a comentar alguns desses
erros, com o propósito de contribuir para uma justa fixação de factos e
conceitos de difícil compreensão para espíritos pouco ou nada versados em
teologia religiosa, e que tudo interpretam à luz das leis materiais da ciência
ou do pensamento filosófico. Foi precisamente esta conceção materialista da
religião que levou Harari a comparar os sacerdotes católicos a
prestidigitadores de rituais que transformam um pedaço de pão e um pouco de
vinho no corpo e no sangue de Cristo, segundo um processo em tudo semelhante ao
truque de um ilusionista. Em Sapiens pode ler-se, a páginas 46: «O sacerdote
exclamava: “Hoc est corpus meum!”, (“Este é o meu corpo”, em latim) e…
abracadabra!, o pão transformava-se na carne de Cristo.» Nas 21 Lições para o
Século XXI, a páginas 326, chega, inclusive, ao ponto de perguntar: «Haverá
algo de mais real do que saborear Cristo na nossa boca?»
Com esta visão falaciosa,
porque destituída de fundamento heurístico, Harari remete a religião para a
esfera da experiência mágica do homem. Só que a magia é sempre
espácio-temporal, finita, mutável e dependente das contingências do processo
histórico, enquanto a religião cristã é uma manifestação que nada tem a ver com
a transitoriedade dos sistemas materiais ou com o intenso fervilhar da especulação
filosófica. Por essa razão é que o Cânone Romano diz que a Eucaristia
instituída por Cristo é o testamento «da nova e eterna Aliança.» Mas a
irreligiosidade de Harari não pode torná-lo ignorante ao ponto de não
compreender o mistério da eucaristia cristã e de equiparar o ritual sagrado da
missa ao espetáculo de um bom feiticeiro.
Cristo, na Última Ceia,
serviu-se dos dons do pão e do vinho, não para enquanto Pessoa se transformar
em pão e vinho – e isso seria um truque –, mas para tomar esses mesmos dons
como símbolos do seu corpo místico: «Tomai e comei…» A hóstia consagrada não é
um alimento para saciar a fome passageira de alguém, mas o alimento que permite
a comunhão na natureza redentora e salvífica de Cristo. Comungar é estar em
corpo e alma com Cristo: «Fazei isto em memória de Mim!», pediu Jesus aos
discípulos, e eles receberam o poder do Espírito Santo para proclamar a Boa
Nova pela face da Terra. No Ato dos Apóstolos (2, 3-4) pode ler-se: «Apareceram
então uma espécie de línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre
cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo…»
O milagre da
transubstanciação do pão e do vinho no corpo e sangue de Cristo dá-se por obra
e graça do Espírito Santo através do serviço sacerdotal, cujo ato é um
magistério sagrado e não um desempenho artístico ou académico, por muito
convincente que seja. Daqui decorre que o poder da Trindade Santíssima se
manifesta segundo leis sobrenaturais, que não podem ser interpretadas por
quaisquer narrativas científicas, históricas, literárias ou filosóficas.
Conforme Bento XVI ensina em Os Sacramentos – Sinais de Deus no Mundo, «a
Eucaristia é mais do que um banquete, é uma festa de núpcias… O sangue de Jesus
é o seu amor, no qual a vida divina e humana se transformam numa só.»
Essa força sobrenatural do
Espírito Santo ficou bem firmada no milagre de S. Gregório Magno (papa entre
590 e 604). Quando uma mulher se riu e disse em voz alta que a hóstia que o
papa segurava na mão não era o corpo e o sangue de Cristo, porque fora ela que
a cozinhara, S. Gregório negou-lhe a comunhão e pediu a Deus para que lhe
iluminasse o espírito sombrio. Então, deu-se o milagre e a partícula consagrada
transformou-se na carne e no sangue de Cristo, aos olhos da ímpia e dos crentes
da basílica de Santa Pudenziana (Roma). Arrependida, a mulher caiu de joelhos e
ficou a chorar copiosamente, por largo tempo. Este milagre foi registado e
confirmado por numerosos documentos, inclusive pela Vita Beati Gregorii Papae,
da autoria do Diácono Paulo, cuja relíquia se encontra conservada no mosteiro
beneditino de Andechs (Alemanha).
Se Yuval Noah Harari tivesse
lido em profundidade os Evangelhos, as cartas de S. Paulo, os ensinamentos dos
doutores da Igreja, os numerosos tratados teológicos sobre a Eucaristia, talvez
não tivesse dito a milhões de leitores de todo o mundo que o ato sacerdotal da
consagração das espécies do pão e do vinho era «um passe de magia que torna o
abstrato concreto e o ficcional real.» Que lastimável!
Fernando Pinheiro, In DM 13.02.2021
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