
Eucaristia de despedida do Sr. Prior, Monsenhor Abílio Cardoso
Texto lido no final da Eucaristia.
Irmãos e Irmãs:
Graça,
Misericórdia e Paz!
Nesta saudação
muito cordial, abraço D. Nuno Almeida, estimado Bispo Auxiliar, e todos e cada
um dos arquidiocesanos.
O projeto do
triénio pastoral (2020-2023), iniciado pelo meu antecessor, D. Jorge Ortiga,
conclui-se com o próximo Ano litúrgico e pastoral sob o tema “Onde há amor
aí habita Deus. Uma Igreja sinodal samaritana”.
De facto, somos
criados e recriados por amor e não podemos viver sem amor: «eu amava amar e
ser amado» - declara Santo Agostinho, nas “Confissões”.
O testemunho da
caridade é dimensão fundamental na vida da Igreja, como nos relembrou o Papa
Francisco na carta apostólica “Desiderio desideravi” (n. 37): «A
pastoral de conjunto, orgânica, integrada, mais do que ser o resultado de
programas elaborados é a consequência do colocar no centro da vida da
comunidade a celebração eucarística dominical, fundamento da comunhão. A
compreensão teológica da Liturgia não permite de modo algum entender estas
palavras como se tudo se reduzisse ao aspeto cultual. Uma celebração que não
evangeliza não é autêntica, tal como não o é um anúncio que não leve ao
encontro com o Ressuscitado na celebração: ambos, por fim, sem o testemunho da
caridade são como o bronze que soa e como o címbalo que retine (cf. 1 Cor 13,
1)».
O maior perigo
que a Igreja pode correr na evangelização, na celebração e na diaconia da
caridade é querer viver como se Cristo não estivesse vivo e ressuscitado. Ele,
Bom Samaritano, continua a gerar e a acompanhar a Sua Igreja.
Juntos, em
processo sinodal dinâmico, seremos capazes de imaginar um futuro diferente para
a Igreja Bracarense: alegria contagiante, escuta acolhedora, portas abertas,
mãe que busca os seus filhos, centrada no Evangelho, discípula missionária,
formação permanente, comunhão pastoral.
1. Fazer sinodalidade
O processo sinodal
que a Igreja está a viver passou, no dia 14 de junho, pela feliz assembleia
sinodal com a apresentação do texto da síntese dos grupos sinodais.
Os três pilares
no processo sinodal dinâmico são: comunhão, participação e missão.
Não se trata de
recolher opiniões, mas de encontrar o Espírito Santo no discernimento da escuta
recíproca e de sentir a voz e a presença de Deus.
A equipa sinodal
considera que o objetivo principal da fase diocesana foi alcançado: «infundir
nas comunidades e realidades eclesiais este espírito de sinodalidade, na
esperança de que este se prolongue além do limite temporal estabelecido para
este Sínodo», sendo que algumas sínteses referem mesmo a vontade de
repetirem os encontros sinodais.
A parábola
desafiadora do Bom Samaritano, ao narrar os gestos de amor — «aproximou-se,
ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho» (Lc 10, 34) — salienta o desafio da grandeza
da humildade: olhar, cuidar, acompanhar – para uma Igreja sinodal samaritana.
Com efeito, Jesus elogiou um entendido na Lei e, ao
mesmo tempo, revelou-lhe o que lhe faltava: pôr em prática: «vai e faz tu o mesmo» (Lc 10,37).
Na evangelização,
não basta saber e dizer, mas é necessário praticar a
misericórdia como o Bom Samaritano.
O estilo de Deus
é proximidade, compaixão e ternura!... Por isso, o renovado dinamismo do
processo sinodal pede conversão pessoal, pastoral e missionária.
Importa esperar e
continuar a sonhar em grande como nos pede o Papa Francisco na “Evangelii
Gaudium” (n. 27): «sonho com uma opção missionária capaz de transformar
tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a
estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do
mundo atual que à auto preservação».
Aproximar é
evangelizar. A proximidade e a evangelização caminham juntas. Fazer a
sinodalidade é ser Igreja.
A sinodalidade é
o estilo próprio da vida e da missão da Igreja, que queremos consolidar nos
âmbitos permanentes da comunhão e da sinodalidade: no Conselho Presbiteral, no
Colégio dos Consultores, no Cabido, no Conselho Pastoral Diocesano, no Conselho
Episcopal, no Conselho Arquidiocesano para os Assuntos Económicos, Conselhos
Paroquias dos Assuntos Económicos (Fábricas da igreja), direções e
colaboradores das IPSS’s e outras realidades da Diaconia da Caridade, nos
Departamentos diocesanos e Serviços diocesanos, nos Conselhos pastorais dos
Arciprestados, Paróquias e Unidades Pastorais, nas comunidades e Pessoas de
Vida Consagrada, nos Movimentos, nos Grupos eclesiais e na Piedade popular.
Com as nossas
possibilidades e limitações, propomo-nos também escutar outras realidades da
pastoral antropológica e territorial: sociais, políticas, económicas e
culturais. Gostaríamos ainda de escutar outras pessoas que raramente são
ouvidas: os pobres, os reclusos, os vulneráveis, os excluídos, os migrantes, as
pessoas portadoras de deficiência, as minorias étnicas e as outras periferias
existenciais que são invisíveis na cidade, na vila ou na aldeia.
Enfim, a
sinodalidade é uma dimensão integrante da Igreja; ao mesmo tempo, «um ato de
governo e um evento de comunhão», segundo a lógica da circularidade
dinâmica de “todos”, “alguns” e “um”. Todos os membros da Igreja são convocados
à consulta, alguns (equipa e assembleia sinodal) são chamados a discernir, um
(o Bispo Diocesano) toma a decisão.
A próxima
Assembleia Arquidiocesana acontecerá em Guimarães, no dia 26 de novembro, o
sábado anterior ao I Domingo do Advento.
2. Jornada Mundial da Juventude – caminhar com os
jovens
A esperançosa
Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 é iluminada pelo evangelho de
São Lucas: «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1,39).
A vida é
peregrinação! Levantar-se, ir e voltar são verbos de movimento com determinação
e sentido de missão.
«Há pressa
no ar e estamos dispostos ao sim, fazer como a Mãe!»
Assim cantamos no hino da JMJ.
O Amor tem
pressa! Aquele Amor que «faz mover o sol e as outras estrelas» -
como escreveu Dante Alighieri, no último verso da “Divina Comédia” (“Paraíso”,
Canto XXX, 145).
Disto é
testemunha qualificada, a Virgem Santa Maria. A Jovem Maria tem pressa em
verificar o sinal recebido pelo Anjo na anunciação e dar a Boa notícia urgente
à sua prima, a idosa Isabel. As duas mulheres carregam a esperança; são as
mensageiras da vida cheia de graça.
A visitação
transfigura o coração para correr apressadamente, mas sem ansiedade. Corremos
juntos para a mesma meta: evangelizar. Este processo envolve-nos a todos,
especialmente aos adolescentes e jovens.
A JMJ é uma
oportunidade única na vida da Igreja peregrina em Portugal, especialmente na
pastoral juvenil vocacional. A sua finalidade identifica-se com a
evangelização, ou melhor, com o desejo de que Jesus Cristo esteja no coração
dos jovens. Jesus Cristo é o essencial do cristianismo. Ele está vivo e
quer-nos vivos!
A JMJ é uma
grande peregrinação da fé. Os jovens da JMJ são um povo de peregrinos. Juntos,
teremos três etapas importantes a realizar:
— a primeira – a peregrinação dos símbolos da JMJ na Arquidiocese
– de 29 de janeiro a 28 de fevereiro de 2023;
— a segunda – a hospitalidade de jovens de outras dioceses do mundo – de 26 a
30 de julho de 2023;
— a terceira – a participação em Lisboa – de 1 a 6 de agosto de
2023.
A peregrinação
dos símbolos da JMJ será acompanhada por nós, os Bispos, como expressão do
nosso serviço à alegria e à esperança dos jovens nesta grande festa da fé.
No mesmo
dinamismo da evangelização celebraremos com esperança, no dia 27 de maio de
2023, o primeiro centenário do Corpo Nacional de Escutas em Portugal, que
começou em Braga.
Ao conhecer a
profunda cultura eucarística que se vive na Arquidiocese, somos desafiados a
acompanhar os jovens na celebração e na adoração da Eucaristia. Juntos
escutaremos a Palavra de Deus na lectio divina com os grupos “Semeadores
de esperança”. Sim, «muitos jovens são capazes de aprender a saborear o
silêncio e a intimidade com Deus (...) Em diversos contextos, os jovens
católicos pedem propostas de oração e momentos sacramentais que incluam a sua
vida quotidiana numa liturgia fresca, autêntica e alegre» (Christus vivit,
224).
A missão de
acompanhar os jovens é um serviço muito necessário. O próprio termo
“acompanhar” remete para o pão partido e partilhado com toda a riqueza
simbólica humana e espiritual ou sacramental.
Por consequência,
a Eucaristia é a alegria e a esperança da nossa peregrinação. A nossa
Arquidiocese é expressão da eucaristia acreditada, celebrada, adorada (o
lausperene arquidiocesano, os congressos eucarísticos, os testemunhos da Beata
Alexandrina, do Padre Abílio Correia, do jovem Bernardo de Vasconcelos e muitos
outros). Não nos podemos limitar a celebrar a Eucaristia nem só a acreditar e
adorar a Eucaristia, mas a ser Eucaristia viva a partir do Domingo.
A Liturgia é o
cume para onde converge toda a harmonia da atividade da Igreja (catequese,
culto e caridade) e ao mesmo tempo a fonte (cf. SC 10) da sua vida
(oração, lectio divina, mistagogia, espiritualidade, conversão e
testemunho). A oração é, pois, a «intérprete
da esperança», como lhe chamou São Tomás de Aquino. E Santo Agostinho, numa
homilia sobre a I Carta de São João, apelidou-a de «exercício do desejo».
Desde o final de
maio de 2022, na nossa Arquidiocese, foram milhares de adolescentes e jovens
que celebraram o sacramento da Confirmação. Como acompanhá-los? Quem se dispõe
a caminhar com os jovens?
Com
razão dizia Santo Agostinho num sermão: «Para poder chegar
a Deus, Pedro deixou as redes e o barco (Mt 4,
22). Para chegar até Deus, a viúva deu duas pequenas moedas (cf. Mc 12,
42; Lc 21, 2) Para poder chegar até
Deus, o que é mais pobre deu um copo de água fresca (cf. Mt 10, 42). Para poder
chegar até Deus, o que é completamente pobre e necessitado, partilhou apenas a
boa vontade. Todos deram coisas diversas, mas chegaram ao uno, porque não
amaram a diversidade. Assim também vós, homens, ovelhas de Deus, ovelhas do
rebanho de Deus, não vos perturbeis com as vossas diversidades temporais, pelo
facto de uns terem prestígio social, outros não; uns terem dinheiro, outros não;
uns terem um corpo bonito, outros não; uns estarem carregados de anos, outros
serem jovens; uns serem crianças, outros homens e outras mulheres. Deus está
igualmente presente em todos. Tem mais lugar junto dele aquele que mais
trouxer, não prata, mas sim fé».
Como é importante
fazer uma peregrinação espiritual, em pequeno grupo, rumo à JMJ.
O grupo pode ser
o lugar onde a comunidade cristã se torna experiência concreta para os jovens.
O pequeno grupo eclesial pode ser o espaço existencial onde as grandes e
exortativas palavras –Participação, Comunhão, Missão, Sinodalidade – se tornem
experiência de fé.
Sobretudo em
grupo é possível fazer a experiência de Jesus ressuscitado visível, audível,
tangível, nosso conterrâneo contemporâneo e companheiro de viajem, como na
estrada de Emaús. Para cada Paróquia ou Unidade Pastoral, pelo menos um grupo
de jovens!
3. Ano Litúrgico-Ano Pastoral
O ano é tido como
a unidade mais longa do tempo dos homens, segundo o ritmo cíclico da terra à
volta da sua fonte de luz.
Partindo do dia
da Páscoa, como sua fonte de luz, o Ano litúrgico não é um calendário de
festas, mas o desenrolar dos diferentes aspetos do único mistério de Cristo. No
seu conjunto, o Ano litúrgico é imagem e “sinal sacramental” do plano eterno de
salvação, que inclui o mistério de Cristo.
Assim, em cada
ano, com o tempo do Advento e da manifestação do Senhor inaugura-se o novo Ano
litúrgico, no qual a Igreja «considera seu dever celebrar em determinados
dias do ano, a memória sagrada da obra de salvação do seu divino Esposo. Em
cada semana, no dia a que se chamou domingo, celebra a memória da Ressurreição
do Senhor, como a celebra também uma vez no ano na Páscoa, a maior das
solenidades, unida à memória da sua Paixão. [A Igreja] distribui
todo o mistério de Cristo pelo correr do ano, da Encarnação e Nascimento, à
Ascensão, ao Pentecostes, e à expectativa da feliz esperança e da vinda do
Senhor» (Sacrosanctum Concilium, 102).
No atual contexto
cultural e pelo ritmo da sociedade, é natural que o Ano litúrgico sofra o
impacto dos fenómenos característicos da industrialização, urbanização,
secularização, consumismo, tempo livre, férias e em certos aspetos, causa uma
verdadeira colisão de calendário. Hoje, que se sente tanto a necessidade de um
calendário próprio e diferente a nível mundial, nacional, diocesano, paroquial,
terá ainda sentido o Ano litúrgico?
Na verdade, o Ano
litúrgico não é mais um ano-calendário, mas marca a centralidade da vida
cristã, que deve ritmar toda a ação eclesial. Na realidade, as harmoniosas
disposições sobre o Ano litúrgico não se expressam, porém, sem distorções nem
choques culturais nas distintas tradições litúrgicas, nas Igrejas particulares,
no confronto com a piedade popular, com os planos pastorais e programação
civil. Isto requer, cada vez mais, uma pastoral do Ano litúrgico, até porque se
nota, habitualmente, que os tempos litúrgicos são apenas mais uma ocasião para
realizar iniciativas pastorais do que verdadeiras celebrações do mistério de
Cristo.
Por isso, temos
que recordar que o Ano litúrgico é o mistério de Cristo. O tempo está carregado
de eternidade, onde Deus manifesta o seu plano salvífico, ou seja, o seu
mistério. Assim, propomos-mos gradualmente a viver conjuntamente o chamado Ano
pastoral em processo catecumenal do Ano litúrgico.
4. Visita Pastoral
Nove meses após o
início do ministério arquiepiscopal, iniciarei no I Domingo do Advento, 27 de
novembro de 2022, a visita pastoral à nossa querida Arquidiocese de Braga,
começando pelo Arciprestado de Amares, segundo o critério da ordem alfabética.
Ainda em tempo de Advento visitarei também a Paróquia de Ócua na Diocese de
Pemba, em Moçambique.
A visita pastoral
é um verdadeiro tempo de graça e momento especial, até único, para o encontro e
o diálogo do Bispo com os fiéis. O santo
arcebispo Bartolomeu dos Mártires (“Estímulo dos Pastores” – ed. bilingue,
pág.168) entendia que: «a visitação é quase a alma do governo episcopal
porque é por ela que o pastor se desfaz e consome em benefício e utilidade de
todas as suas ovelhas». Com efeito, para o Bispo ou o Pastor,
como o recordam tantos santos Mestres, «o mais importante é conhecer o povo
do Senhor que lhe está confiado».
Nos muitos
encontros já havidos convosco, admirei especialmente a fé e a generosidade com
que testemunhais o Reino de Deus.
A sociedade em
que vivemos parece menos atenta aos valores do Espírito e distraída por muitas
mensagens contraditórias que conduzem a atitudes e comportamentos distantes da
Tradição cristã e que não deixam pensar no essencial da vida. Todavia em nós,
os crentes, ressoa constantemente o convite para que, da liturgia à caridade,
da catequese ao testemunho de vida, tudo na Igreja torne visível e reconhecível
o rosto de Cristo, a centralidade do mistério integral de Cristo. Daí que todos
estamos comprometidos Ad docendum Christi Mysteria – Para mostrar os
mistérios de Cristo.
O Senhor
ressuscitado caminha com a sua Igreja e com a humanidade, não se cansando de
nos convidar a ter esperança na evangelização. Ele ama este mundo, pelo qual se
deu a si mesmo, e quer que todo o homem se salve.
É com esta
convicção que venho ao vosso encontro, nos lugares da vida quotidiana, para
confirmar a vossa fé, que já é grande, para transmitir a vida em Cristo; a
alegria de ser convosco cristão e para vós Bispo, para vos convidar a viver e a
trabalhar sempre com confiança, confiando não nas nossas frágeis forças, mas no
Senhor e na sua constante presença de amor.
Agradeço
profundamente o dom inestimável da vida e do ministério pastoral dos Párocos e
de todos os Sacerdotes, os primeiros e indispensáveis colaboradores na missão
evangelizadora.
Conto também com
o serviço dos Diáconos, das Pessoas Consagradas e das equipas pastorais com
todos os ministérios nas comunidades cristãs.
A todas/os
Leigas/os, às famílias, aos movimentos e grupos eclesiais, aos organismos
diocesanos de pastoral, à Cáritas, às Instituições de Solidariedade social, às
Misericórdias, Confrarias e Irmandades, garanto a minha disponibilidade e
oração, esperando encontrar a todos e contar com a vossa colaboração e
corresponsabilidade na concretização de uma Igreja de proximidade, compaixão e
ternura.
Saúdo as irmãs e
os irmãos: doentes, reclusos, pobres, pessoas com deficiência, desempregados,
migrantes, minorias étnicas e todos os mais velhos e mais sós que sofrem e
vivem nas periferias existenciais e numa crescente globalização da indiferença.
Na nossa Igreja sinodal e samaritana, o próximo é todo aquele que precisa de
mim e de quem me aproximo. É a necessidade que o torna tão próximo de mim para
lhe fazer sentir as carícias de Deus.
Com as
Autoridades autárquicas, civis, académicas, militares, forças de segurança e
proteção, órgãos de comunicação social, espero uma sincera cooperação recíproca
em ordem ao bem comum, à dignidade das pessoas, à fraternidade e amizade
social.
Saúdo ainda, com
viva simpatia, todas as mulheres e todos os homens de boa vontade que buscam a
verdade, a bondade e a beleza.
A todos desejo
encontrar. Rezaremos juntos, estaremos
juntos, refletiremos juntos,
escutaremos juntos a Palavra de Deus e, juntos, decidiremos os passos a
realizar para incutir novo vigor às nossas comunidades e um novo impulso
missionário a toda a nossa Igreja diocesana.
Não é o Bispo o
centro da visita, mas sim Cristo. Para Ele temos de olhar para abrirmos o
coração, a vida, a porta das nossas casas, das nossas paróquias, dos lugares de
trabalho, de estudo e de sofrimento.
A visita pastoral
deve-nos fazer crescer em fraternidade, para fazermos da Igreja uma família
onde se acolhe e se ama.
Peço a todos para
rezar pelo bom êxito desta visita pastoral.
5. Peregrinação ao encontro do(s) Outro(s)
A metáfora da
peregrinação é um dos mais antigos exercícios espirituais. O peregrino é alguém
que caminha e espera o encontro. Para tal, partir significa perder os pontos de
referência na esperança de ganhar tudo. Escreve um autor espiritual: «Há
gente que vai em peregrinação para terras distantes. Vai em procissão à volta
do templo sem nunca entrar no santuário. Mas eu vou em peregrinação até ao
amigo que habita em mim» (Angelus Silesisus). Neste itinerário espiritual,
como «em qualquer aventura, o que importa é partir, não [é] chegar».
Assim o escreveu Miguel Torga, no poema “Viagem”, em “Câmara ardente”.
Tenho
peregrinado em vários lugares da Arquidiocese e experimentado como somos um
povo peregrino. De modo especial, a peregrinação a pé, faz-nos passar de observadores a contempladores nos caminhos de hoje para a
eternidade. Com efeito, a sinodalidade compromete a vocação peregrina da
Igreja.
A piedade popular
tem em si mesma uma força evangelizadora. Com efeito, afirma o Papa Francisco
na“Evangelii Gaudium”, (n. 126): «as
expressões da piedade popular têm muito que nos ensinar e, para quem as sabe
ler, são um lugar teológico a que devemos prestar atenção particularmente na
hora de pensar a nova evangelização». De facto, temos de prestar particular
atenção à piedade popular e, especialmente, aos santuários como centros
propulsores da evangelização permanente.
O tempo que nos
toca viver está a fazer crescer novos pobres e novas pobrezas. Não sejamos
indiferentes e continuemos a cultivar o sonho da fraternidade universal e da
amizade social para «humanizar a humanidade, praticando a proximidade»
(Pedro Casaldáliga, discurso de 2006, quando recebeu o Prémio Internacional
Catalunha).
O peregrino é
alguém que caminha e espera o encontro.
Da liturgia à
caridade, da catequese à piedade popular e ao testemunho de vida, tudo na
Igreja deve tornar visível e reconhecível o rosto de Cristo, a centralidade do
mistério integral de Cristo. A audácia da esperança faz-nos peregrinos de novos
caminhos e de novas linguagens na fidelidade criativa do Evangelho, para que
tenhamos vida abundante em Jesus Cristo.
6. Escuta e formação
A síntese
sinodal, publicada a 4 de julho, proveniente maioritariamente das paróquias,
unidades pastorais e arciprestados, movimentos, departamentos e vida
consagrada, mostra e reafirma que a sinodalidade é um ponto sem retorno. «A
aposta na formação assume um carácter primordial e incontornável nos diferentes
âmbitos de ação eclesial, de modo que todos
possam ter uma participação ativa, consciente e apaixonada na vida da Igreja.
(...) Como tal, esta formação para agentes de pastoral deverá contemplar várias
dimensões: a formação humana, espiritual, teológica, bíblica e pastoral. (...) Por
isso, a experiência dos grupos sinodais, com o método das rondas, onde todos
são desafiados à escuta do Espírito Santo e dos demais irmãos, bem como a
deixar a sua partilha e participação ativa deve ser estratégia e instrumento a
preservar e potenciar para além deste processo sinodal em curso».
E ainda se diz: «A escuta e a proximidade são mencionadas como algo
essencial, mas em falta na vida comunitária. Com a identificação desta “falta”,
quer-se dizer que não existe a cultura dos “leigos escutarem os leigos” e
destes serem escutados pelos párocos, isto é, a predisposição para escutar o
próximo, mesmo sem terem de se convocar reuniões ou assembleias».
A
formação realiza-se, antes de mais, no primado da Graça ou da Oração: pessoal,
familiar, comunitária, especialmente na liturgia. A valorização e a
familiaridade com a Palavra de Deus farão da paróquia ou da unidade pastoral,
uma casa e escola de oração. A escuta e a formação acompanham o itinerário de
toda a nossa vida. Estamos convictos, como dizia
Santo Inácio de Loyola, que: «não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma,
mas o sentir e saborear intensamente as coisas».
A
formação inicial e permanente nos Seminários, na Faculdade de Teologia, nas
comunidades cristãs, nos Arciprestados, nos movimentos e grupos eclesiais é um
caminho a consolidar nos processos de conversão pastoral e missionária.A
conversão não é um momento, mas uma atitude. A conversão não é só mudança de
mentalidade, mas uma mudança interior.
Seria bom que se
desenvolvesse um dia de escuta em cada comunidade. O Sacerdote, o Diácono, a
Pessoa consagrada ou um Leigo ou uma Leiga, por designação do Pároco
colocar-se-iam à disposição de quem
precisa de ser ouvido.
A promoção dos
ministérios instituídos de leitores, de acólitos e de catequistas, também entre
as mulheres, será um dos caminhos a percorrer na formação cristã integral e na
partilha responsável dos ministérios eclesiais.
Esperamos iniciar
brevemente o percurso formativo para o Diaconado permanente.
7. Juntos na Missão
Adverte o Papa
Francisco: «a missão não é um negócio nem um projeto empresarial, nem mesmo
uma organização humanitária, não é um espetáculo para que se possa contar
quantas pessoas assistiram devido à nossa propaganda» (Evangelii gaudium,
n. 279).
As recomendações
que Jesus faz aos seus missionários são desafiadoras ainda hoje: «Jesus
chamou os doze Apóstolos e deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demónios
e para curarem todas as doenças. Depois enviou-os a proclamar o reino de Deus e
a curar os enfermos. E disse-lhes: “Não leveis nada para o caminho: nem cajado,
nem alforge, nem pão, nem dinheiro, e não leveis duas túnicas. Quando entrardes
em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. Se alguns não vos receberem, ao
sair dessa cidade, sacudi o pó dos vossos pés, como testemunho contra eles”. Os
Apóstolos partiram e foram de terra em terra a anunciar a boa nova e a realizar
curas por toda a parte» (Lc 9, 1-6).
A prioridade do
essencial é o Evangelho. Só se evangeliza com o Evangelho. A pobreza é, ao
mesmo tempo, fé, liberdade e leveza nos discípulos missionários do Evangelho.
Com D. Hélder da
Câmara, somos igualmente interpelados: «Missão é partir, caminhar, sair de
si. É quebrar as crostas do egoísmo que nos fecha no nosso eu! Missão é parar
de dar voltas ao redor de nós mesmos como se fôssemos o centro do mundo, da
vida. Missão é não deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que
pertencemos. A Humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não devorar
quilómetros. É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e
encontrá-los. E para os descobrir e amar é necessário atravessar mares e voar
pelos céus, então, missão é partir até aos confins do mundo!» (Vd
www.arquidioceseolinda do recife.org).
A Igreja existe
para evangelizar, conforme desafiou São Paulo VI na “Evangelii
Nuntiandi”, n 80: «Conservemos o fervor do espírito, portanto;
conservemos a suave e reconfortante alegria de evangelizar, mesmo quando for
preciso semear com lágrimas! (…). E que o mundo do nosso tempo que procura, ora
na angústia, ora com esperança, possa receber a Boa Nova dos lábios, não de
evangelizadores tristes e desanimados, impacientes ou ansiosos, mas sim de
ministros do Evangelho cuja vida irradie fervor, pois foram quem recebeu
primeiro em si a alegria de Cristo, e são aqueles que aceitaram arriscar a sua
própria vida para que o reino seja anunciado e a Igreja seja implantada no meio
do mundo» para mostrar os surpreendentes mistérios de Cristo, nossa Páscoa
e nossa Paz.
A vida do
peregrino da fé, pode resumir-se nas palavras de Paulo: «Exorto-vos,
portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como
hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o nosso culto espiritual» (Rm
12,1). Em Cristo e no seu Espírito, toda a existência cristã se torna um
sacrifício vivo e agradável a Deus, isto é, um autêntico culto espiritual.
A Liturgia da
Igreja canta: «ubi caritas et vera, Deus ibi est», ou seja, onde há
caridade verdadeira aí habita Deus. E o cântico de amor continua: «quando em
nome de Deus nos reunimos, não nos separemos pela discórdia. Acabem discussões
e contendas, para ficar em ter nós o Senhor Jesus Cristo».
A evangelização
acontece no encontro entre as pessoas na caridade. Enfim, como lembrou a
Conferência Episcopal Portuguesa: «Evangelho significa então evangelização e
evangelização implica movimento e comunicação, e requer tempo, formação,
inteligência, entranhas, mãos e coração».
A nossa realidade
pastoral exige a coragem, a confiança, o amor e a paciência para ir ao encontro
dos homens e das mulheres do nosso tempo, testemunhando que também hoje é
possível, belo, bom e justo viver a existência humana à luz do Evangelho da
Esperança.
Como a Virgem
Santa Maria de Braga, a Senhora de todos os nomes belos, peregrinamos com
coragem, confiança, liberdade, amor e paz.
Boa
peregrinação!
Peregrino
convosco. Juntos, somos Igreja sinodal samaritana e não esqueçamos que onde há
amor verdadeiro, aí habita Deus.
Abraço muito
cordial.
Sé de Braga, 28
de agosto de 2022, 933º aniversário da dedicação.
+ José Manuel Garcia Cordeiro
Arcebispo Metropolita de Braga
Foto: Diocese de Braga
Texto lido no final da Eucaristia.
De Junho a Agosto de 2023
Assim, nas várias peregrinações a pé organizadas na Paróquia, entre 2007 e 2022, seja pelos Caminhos de Santiago, Fátima ou S. Bento, participaram cerca de 600 peregrinos.
CENTRA-SE NA CULTURA DO CUIDADO
Bíblia escrita à mão.
DA PARÓQUIA DE SANTA MARIA MAIOR