1. “Nada se faz sem tempo”, diz-nos a sabedoria popular. E o livro do Eclesiastes acrescenta: “para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu” (Ecl 3,1). Uma vez chegados à Quaresma, é-nos oferecido um tempo onde podemos fazer muita coisa. São 40 oportunidades (40 dias) para mudarmos o significado dos hábitos, isto é, de fazermos as mesmas coisas mas com a consciência da oração, do jejum e da esmola. Na verdade, não pretendemos que a Quaresma seja apenas mais um tempo do calendário litúrgico, mais um tempo de carácter penitencial ou mais um tempo inútil, mas que seja, acima de tudo, um tempo e um teste de conversão progressiva.
2. Na sua mensagem, o Papa Francisco desafia-nos a “ver, tocar e a ocuparmo-nos das misérias dos nossos irmãos”[1]. E identifica três tipos de miséria: a miséria espiritual (esquecimento de Deus) a miséria moral (escravidão do pecado) e a miséria material (falta de bens essenciais), dando resposta a cada tipo de miséria. Por isso, auscultados os respectivos órgãos arquidiocesanos, decidi que o contributo quaresmal, expressão da nossa liberdade e compromisso cristão, reverterá este ano para o Fundo Partilhar com Esperança, a partir do qual continuamos a responder às necessidades materiais dos mais carenciados de todas as paróquias, e para duas iniciativas da Diocese de Pemba, Moçambique: projeto de proteção de crianças desnutridas e órfãos da Paróquia Maria Auxiliadora (sacerdotes da sociedade Missionária da Boa Nova) e construção duma Escola Infantil na Paróquia de Santa Maria, em Namuno, primeira Missão Católica nessa região iniciada há 90 anos (Padres Monfortinos).
3. Ao revisitarmos o plano pastoral da Arquidiocese, que faz a ponte entre a fé professada e a fé celebrada, compreendemos que na liturgia afinal não celebramos uma mera doutrina teórica, mas o acontecimento concreto da nossa salvação realizada em Jesus Cristo. A celebração do mistério pascal de Cristo é a celebração da salvação do ser humano que se faz realidade na morte e ressurreição de Jesus Cristo. A liturgia é, assim, um lugar privilegiado onde Cristo se torna presente na comunidade cristã e a Quaresma, um tempo privilegiado para meditarmos nos principais momentos da Sua vida pública, que culminou no alto da Cruz. Nesta consciência, gostaria apenas de deixar-vos uma pergunta a ser interiorizada durante este tempo: será que as nossas celebrações convidam realmente a um encontro pessoal e comunitário com Cristo, concretizado num encontro com os mais carenciados?[2]
4. Se a caminhada quaresmal, entre outras coisas, nos convida à renúncia para dar dignidade de vida às pessoas que experimentam a “miséria material, espiritual e moral”, a todos (crentes e, se o quiserem, não crentes) me atrevo a perguntar sobre as coisas que diariamente desperdiçam e pedir que reinventem outros modos em prol dos carenciados. A título de exemplo, atrevo-me a lançar um desafio quotidiano, oriundo da cidade de Nápoles (Itália), denominado de “café suspenso”. Trata-se da doação que uma pessoa faz desta bebida a uma pessoa necessitada. Exemplificando, alguém chega a um estabelecimento comercial/restauração, pede um café e, no fim, em vez de pagar só aquele café, paga dois, deixando o consumo deste segundo café para alguém necessitado que o peça mais tarde naquele mesmo estabelecimento. Ou seja, o segundo café fica pago e “em suspenso” até ser requisitado e consumido por alguém necessitado. Mas quem fala de um café, porque não falar também de um “pão suspenso”, “refeições suspensas”, “medicamentos suspensos” ou “roupas suspensas”? Mediante este gesto de caridade, ao alcance de todos nós, creio que estaremos a combater de um modo directo a denominada “pobreza envergonhada”, que já afecta muita gente da classe média. Todavia, para que isto resulte, com clareza e sentido cristão, é preciso apelar, obviamente, à devida responsabilidade dos comerciantes na gestão destes bens alimentares “em suspenso”. Desta forma, convido os párocos, e respetivas equipas socio-caritativas, e instituições católicas a desenvolverem esta ideia nas suas paróquias, identificando os comerciantes interessados neste gesto e instruindo-os para tal iniciativa, dando orientações muito concretas para que ninguém, comerciante ou carenciado, se possa aproveitar indevidamente.
5. Por fim, e revisitando a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Juventude, desafio ainda os nossos jovens à “particular tarefa de colocar a solidariedade no centro da cultura humana”[3]. Por tudo isto, desejo uma boa caminhada quaresmal a todos nós, na certeza de que da Cruz de Cristo radiará uma luz carregada de sentido para as nossas vidas!
+ Jorge Ortiga, A.P.
26 de Fevereiro de 2014.
OLHANDO OS PÉS DESCALÇOS
Mensagem de Natal
Conta-se que uma vez, um empresário de calçado enviou um agente comercial da sua empresa para um país longínquo em busca de novos negócios. Passado um tempo, este agente regressa desolado pois reparou que naquele país toda a gente andava descalça. E como se não bastasse, após ter contado ao patrão o sucedido, ainda mais perplexo ficou com a resposta dele: "Excelente notícia, pois isso abre-nos um mercado imenso!"[1]
Partindo desta história, queria retirar duas propostas. Dos inúmeros pecados actuais, o pecado original do consumismo continua a vigorar entre nós. O consumismo é uma mentalidade subtil que, para sermos felizes, exige-nos ter todas aquelas coisas que a sociedade e a publicidade nos incitam a ter, sob o pretexto de estarmos actualizados, na moda e no ranking da sociabilidade. E aí, quando já damos mais valor às coisas do que às pessoas, este pecado torna-se mortal, porque mata a convivência humana: uma convivência que é essencial para a felicidade e realização pessoal.[2]
E o maior risco do tempo de Natal é quando ele se torna numa ocasião de pecado em prol de um consumismo desenfreado, em vez de uma oportunidade para exercermos a bem-aventurança da misericórdia.
"A salvação, que Deus nos oferece, é obra da sua misericórdia", diz-nos o Papa Francisco.[3] De facto, nós fomos criados para a misericórdia e o melhor exercício de misericórdia que podemos produzir é ajudar a "calçar" os inúmeros pés descalços que circulam pela nossa sociedade: os pés calejados pela descriminação, os pés feridos pelo desemprego e os pés ensanguentados pela fome. Por isso, gostaria de apelar a que, na noite de Natal, acendêssemos aquela vela que a Cáritas Portuguesa tem distribuído pelo país, e recordássemos todos os pés descalços que circulam a nossa vizinhança a reclamar uma vida nova. Impõe-se que descentralizemos a nossa atenção: fixemo-nos menos em nós e mais nos outros.
Tendo em conta a temática do nosso ano pastoral, a liturgia é, por assim dizer, o berço onde Cristo "nasce" em cada celebração, fazendo-se presente, para nos encher dessa vida nova. Celebrar o Natal é celebrar a chegada desta "luz dos homens" (Jo 1,4), que desfaz o tempo de nevoeiro que se "abateu" sobre nós no Tempo do Advento[4]. Sabemos que a sociedade hodierna obriga-nos a acreditar nas potencialidades do momento em que vivemos. É mais fácil cruzar os braços. Desanimar. Pensar que não vale a pena e deixarmo-nos levar pelo pecado do desânimo. Urge acreditar que da crise pode surgir uma nova oportunidade, válida para industriais, comerciantes, para quem oferece trabalho ou o pode criar. É hora de arriscar e não ter medo!
Com esta luz encontrada na liturgia, tomemos consciência de que o mundo pode e deve mudar. Se abrirmos bem os olhos, conseguiremos ver que os pés descalços são muitos e variados. Por isso, o melhor presente que podemos oferecer é ajudar a calçar os pés descalços com a nossa misericórdia e acreditar nas nossas capacidades. Não percamos tempo! Temos diante de nós a oportunidade de devolver a alegria, entrando neste mercado que infelizmente continua a ser imenso.
Um bom Natal para todos vós, de um modo especial, as famílias, os desempregados, os emigrantes que regressam nesta época natalícia, os doentes, os idosos e aqueles que, porventura, já deixaram de acreditar em Deus!
+ Jorge Ortiga, A.P., 19 de Dezembro de 2013
[1] Luigino Bruni, Capitais: nem tudo é mercadoria, in «Avvenire», 04.11.2013
[2] Cf. Vasco Pinto Magalhães, Não há soluções, há caminhos.
[3] Cf. Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 112.
[4] Cf. D. Jorge Ortiga, Advento, tempo de nevoeiro. Mensagem para o tempo de Advento – 2013.
ORIENTAÇÕES PASTORAIS PARA 1 E 2 DE NOVEMBRO
1. Ao aproximar-se a data litúrgica da Solenidade de Todos os Santos e da Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, a alteração do calendário civil (extinção temporária do feriado relativo ao dia 1 de novembro) exige, do ponto de vista da oportunidade pastoral, uma adaptação de alguns actos litúrgicos e exercícios de piedade.
2. Ao recolher informações junto dos vários Conselhos Arquidiocesanos e da experiência das Visitas Pastorais, reconheço que ainda há, por parte dos fiéis, uma certa ambiguidade entre as celebrações correspondentes ao dia 1 de novembro (Todos os Santos) e ao dia 2 de novembro (Fiéis Defuntos). Na sua origem estará, entre outros motivos, a possibilidade que o até então feriado oferecia às pessoas para participarem nas respetivas celebrações desse dia. E que, de forma oportuna, os sacerdotes aproveitavam para proceder à tradicional romagem ao cemitério, em dia de Todos os Santos, embora para fazer memória e rezar por todos os Fiéis Defuntos. Em suma, podemos identificar três momentos distintos: a celebração eucarística do dia 1 de novembro (Todos os Santos), a(s) celebrações litúrgica(s) do dia 2 de novembro (Fiéis Defuntos) e a romagem ao cemitério.
3. Por conseguinte, gostaria de aproveitar esta alteração temporária do calendário civil para superar os equívocos provocados pelas referidas transferências das celebrações litúrgicas. Com base no Diretório Litúrgico, devemos partir do princípio de que, no dia 1 de novembro, celebramos a "glória e a felicidade" dos Santos; e, no dia 2 de novembro, na continuação lógica daquela solenidade, desejamos recordar todos os defuntos para que, "quer vivam na glória, quer vivam ainda na purificação (Purgatório)", mediante a nossa oração (cf. Tg 5,16), alcancem também a vida eterna.
4. Deste modo, hei por bem sugerir as seguintes indicações litúrgicas:
- no dia 1 de novembro, deve celebrar-se em todas as comunidades da Arquidiocese a eucaristia da Solenidade de Todos os Santos;
- no dia 2 de novembro, deve celebrar-se em todas as comunidades da Arquidiocese a eucaristia comemorativa dos Fiéis Defuntos;
- no primeiro fim-de-semana a seguir ao dia 2 de novembro (ou domingo coincidente com este dia), deve fazer-se a romagem ao cemitério. E, no caso de aí se celebrar eucaristia, deverão tomar como referência uma das três eucaristias previstas para o dia 2 de novembro, escolhendo a que mais se ajusta ao momento da celebração.
5. Para que esta proposta ajude os fiéis a tomar melhor consciência daquilo que se celebra, seja a Solenidade de Todos os Santos, seja a Comemoração dos Fiéis Defuntos, requer-se uma catequese prévia (admonição, parte da homilia, artigo no boletim paroquial; etc.) que explique a diferença e a importância destes dois dias do calendário litúrgico, bem como um apelo à participação nestes três momentos distintos.
+ Jorge Ortiga, A.P. 17 de Outubro de 2013
GARTIDÃO A DEUS, NO ONTEM E HOJE
Mensagem à Confraria de Nossa Senhora do Terço - Barcelos
Ao redescobrirmos a nossa identidade cristã – como nos interpela o Programa Pastoral – sentimo-nos convidados ao abandono confiante no Amor de Deus que nos torna uma autêntica comunidade.
Pode parecer não encerrar grande novidade e ser uma realidade estranha. Somos todos filhos dum único Pai e, por isso, verdadeiramente irmãos congregados numa única Igreja. Olhar para o individualismo hodierno sublinha a necessidade duma missão que nos une para ir prosseguindo etapas em ordem a esta meta. A Igreja sempre reconheceu a importância duma consciência missionária que sendo pessoal ganha força no associar-se.
As Irmandades ou Confrarias nasceram com esta finalidade prosseguindo, em comum, fins materiais ou espirituais. A Confraria de Nossa Senhora do Terço é só mais uma que, na sua gloriosa história desde 15 de Novembro de 1846, pretende "promover o culto e veneração a Nossa Senhora Mãe de Deus e Mãe dos homens, espalhando e radicando na alma dos fiéis a devoção do Terço do Santíssimo Rosário". Nesta finalidade mais de ordem espiritual, não esquece a "assistência moral e material" aos confrades, numa atenção privilegiada à "evangelização" e "promoção da doutrina social da Igreja".
Os anos foram passando mas o espírito genuíno destas finalidades não esmoreceu. Se outrora existiram mesários dinâmicos que conseguiram congregar os irmãos, hoje continuamos com cristãos conscientes da missão que lhes compete e sempre como expressão da Igreja e parte integrante da paróquia de Santa Maria Maior de Barcelos.
Se razões imperiosas me impedem de testemunhar a gratidão pelo passado e pelo presente, não posso deixar de me congratular por este aniversário que fica marcado por um restauro cuidado deste local de culto. As iniciativas espirituais necessitam de espaços dignos e as dificuldades dos tempos não atenuaram o cuidado e qualidade das intervenções. Aqui o terço pode ser rezado com outra qualidade espiritual, suscitando esta devoção no quotidiano de quem por aqui passa, acolhendo o dom da fé, como Maria, e comprometendo-se na promoção duma doutrina social da Igreja que encerra dentro de si o gérmen duma sociedade mais humana.
Que Nossa Senhora do Rosário conserve em todos os irmãos esta verdadeira consciência de Igreja, numa unidade que não destrói a originalidade duma Confraria, mas sublinha que o Reino de Deus se edifica em comunidade que se evangeliza para colocar a semente da fé no coração da cidade secular.
Que as minhas orações pelos mesários e benfeitores falecidos, assim como por todos os irmãos com a respetiva mesa que em si encerram os atuais benfeitores e devotos, compensem a minha ausência física.
+ Jorge Ortiga, A.P.
Paço Arquiepiscopal de Braga, 6 de Julho de 2013
NÃO SE SECULARIZEM AS FESTAS DOS SANTOS
Por esta altura, um pouco por todo o país, surgem,
com toda a pujança, as festas patronais. São manifestações cheias de valores:
dos artísticos aos conviviais, dos económicos aos espirituais. Mas nem tudo é
ouro de lei.
Há tempos, a Ana Luísa, uma adolescente contestatária, mas
arguta e empenhada na vida da Paróquia, disparava-me: “Que Igreja é esta que faz
festa pelo assassinato dos seus mártires? Não é uma Igreja louca e de loucos?”.
Será, se não compreendermos o sentido da festa cristã. Para muitos,
festa significa tão somente exterioridade, folguedo, diversão, quando não
leviandade, excitação e ultrapassar o risco da moralidade. É um não pôr limites
aos limites habituais. Neste sentido, sim, seria loucura. Loucura pecaminosa!
Seria sacrílego que a Afurada celebrasse o martírio de São Pedro, que Barcelos
fizesse festa por causa da Cruz e que em Viana se exaltasse a… Agonia. É
verdade: bombos, foguetes, farturas, «majorettes», música «pimba» e brejeira
para comemorar… a Agonia!
Mas a festa cristã é outra coisa.
Etimologicamente, a palavra latina que lhe deu origem significa ritual,
reactualização de um acontecimento passado e sua elevação à categoria de
simbólico. Como tal, de exemplar. Ou de transformação do tempo prosaico em tempo
salvífico, poético, cheio de sentido existencial. Por isso, cristãmente, a festa
é a experiência dos acontecimentos nos quais Deus realiza e manifesta a
salvação.
Se lhe retirarmos esta dimensão, ficamos com um monstro nos
braços. O que está largamente a acontecer. Em grande parte porque autarquias e
comissões auto-nomeadas, a quem só interessa o folguedo, operaram uma tal
metamorfose que da festa cristã ficou apenas… o nome do santo. Na melhor das
hipóteses! E são hoje as “festas do Concelho” ou a “Romaria de qualquer coisa”.
Em nome do pluralismo e da tolerância para com os não crentes, caiu-se num tal
laicismo cuja fundamental preocupação é evitar, ostensivamente, que nada de
religioso apareça. Vejam-se, por exemplo, os cartazes com que se anunciam ou as
iluminações nocturnas. Enfim, festa «religiosa» sem santo e, muito mais, sem
santidade…
Mas este laicismo rançoso representa, objectivamente, uma
grave lacuna de conhecimento das razões pelas quais a comunidade faz isto
naquelas datas. Como tal, fica um acto privado de razões ou de fundamentos. E a
falta de códigos de reconhecimento gera o vácuo, o sem-sentido e, mais tarde ou
mais cedo, a repulsa.
Creio bem que para salvarmos as festas populares,
só há uma via: salvarmo-nos deste laicismo provinciano, grosseiro, bacoco e
parolo.
+ Manuel Linda, 2013-06-13 • 03:06
A voz do Arcebispo
GESTOS ALTERNATIVOS
Mudar de critérios para uma felicidade comum
Creio em Jesus Cristo que padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.
Mensagem para o Tempo da Quaresma
1. O início do recente filme “Os Miseráveis”, sobre uma das obras do escritor francês Victor Hugo, ensina-nos como um pequeno gesto de misericórdia, executado por um idoso sacerdote, acaba por transformar por inteiro a vida de um “miserável”. E graças a esse gesto, este acaba por desencadear outros gestos idênticos ao longo da sua vida.
O tempo da Quaresma é assim este tempo de preparação, reflexão e avaliação dos nossos gestos, segundo o espelho da fé. Na verdade, ...
MENSAGEM DE BENTO XVI
CREIO EM TI!
Em ano de Fé, celebrando as Bodas de Prata Episcopais, recordo o dom da fé como dom maravilhoso a acolher para partilhar: assumo que gostaria de o expressar visivelmente através dum amor incondicional a Deus e ao próximo e espero ser instrumento da Paternidade Universal de Deus que nos responsabiliza pela fraternidade com todos.
Crer em Deus é crer em todos.
Crer é amar Deus e os outros.
Crer é esperar uma Arquidiocese unida
para que todo o mundo acredite.
1 – Creio em ti, caro presbítero, que és rosto transparente do amor de Deus pelo Seu povo. Comove-me ver-te partir o pão da amizade e a desatar os nós do sofrimento. Espero ter-te sempre próximo, para anunciarmos Cristo a todos que O procuram de coração sincero.
2 – Creio em ti, caro/a religioso/a, que és sinal profético do Reino de Deus. Admiro-te pela delicadeza dos teus gestos, que são uma verdadeira oração quotidiana. Espero que continues a suscitar o espanto da fé em cada irmão que se cruza no teu caminho e na comunidade onde vives.
3 - Creio em ti, caro/a jovem, que és a esperança do amanhã. Orgulha-me a tua procura inquieta, que antecipa o nascimento de um mundo melhor.
Espero que me emprestes a tua voz sempre que a minha falhar. Gostaria ainda, um dia, de celebrar um encontro contigo para te apresentar Aquele que me inspirou neste nosso projeto comum.
4 – Creio em ti, caro/a irmão/ã, que vives uma situação de fragilidade. Inclino-me perante o teu espírito de heroica e silenciosa coragem. Dificilmente estamos preparados para momentos inesperados, mas a cruz, que também Cristo carregou, não tem a última palavra sobre a vida. Espero que sintas esta minha frágil e silenciosa presença por meio da oração, na certeza duma comunhão permanente com as tuas debilidades.
5 – Creio em ti, caro/a irmão/ã que habitas involuntariamente o silêncio da fé. Também para mim é um mistério este paradoxo. Sei todavia que o silêncio não é sinónimo de ausência. A fé é dom e fidelidade. Espero, peço-te, a fidelidade à procura sincera e, porventura, a decisão consciente de mergulhar no mistério de Deus, mesmo quanto tudo aquilo que ouves é silencio.
6 – Creio em ti, família expressão do visível amor de Cristo na procura conjunta da felicidade e aberta ao dom da vida. Sei que te alimentas e encorajas da Palavra de Deus. Espero ver-te verdadeira “Igreja doméstica” e comprometida na Igreja de Jesus para construirmos um mundo mais humano e unido.
7 – Olá meu/minha pequenito/a. Creio em ti pois, juntos, temos um amigo. Jesus ofereceu a todos os meninos/as do seu tempo muita dedicação, não deixando de apontar o caminho da verdadeira alegria e felicidade. Espero que O queiras conhecer para o seguir. Vamos fazer a grande família de Jesus sendo amigo d’Ele e de todos.
Sabes, um poeta muito famoso disse uma vez que “o sonho comanda a vida”. Nos sonhos, tudo aquilo que o teu coração deseja torna-se realidade. Mas também podes sonhar com os olhos abertos. Basta que tenhas um coração cheio de amor e a magia acontece. Ajuda os teus pais a sonhar. Jesus já sonha contigo. O coração Dele é enorme e ama-te.
8 – Creio em ti, caro/a cristão/ã, que, como eu, és discípulo/a peregrino/a de Cristo. Amo--te profundamente e agradeço a tua presença fiel, que tanto alegra a nossa grande família cristã. Espero que partilhes esta boa nova a todos que te são próximos e em todos os ambientes onde estás presente.
+ Jorge Ortiga, A.P., 3 de Janeiro de 2013.
PROIBIDO DESISTIR!
Mensagem do Arcebispo, D. Jorge Ortiga, para o novo ano de 2013.
Cremos que por Ele todas as coisas foram feitas.
Apesar das inúmeras previsões apocalípticas para este ano, o nosso Deus preferiu continuar a dar-nos a oportunidade de desfrutar deste belo mundo, que Ele próprio preparou outrora para nós, pois, continuando a caminhar nos conteúdos do Credo, acreditamos que “por Ele todas as coisas foram feitas”.
Neste sentido, considero que qualquer mensagem de ano novo deve despertar uma razão válida para continuarmos a viver com alegria neste status social tão sombrio. A propósito, a prestigiada revista norte-americana Time elegeu como figura do ano o Presidente Barack Obama. Contudo, eu preferia eleger como figura do ano um conjunto de pessoas que, no meio de adversidades físicas e económicas, mesmo assim conseguiram ser um factor de enorme orgulho para o país: os atletas portugueses dos Jogos Paralímpicos de Londres, alguns deles da nossa Arquidiocese, e a quem saúdo pessoalmente!
Na mensagem do ano passado, tinha ressaltado aqueles seis pescadores das Caxinas, que sobreviveram durante três dias em alto mar. Do mesmo modo, estes atletas também “sobrevivem” a dificuldades quotidianas para que, através do desporto, revelem a igualdade de oportunidades, acentuem o combate à discriminação e cimentem a valorização das pessoas com deficiência.
Com o evento do Átrio dos Gentios, percebemos que afinal a vida, para crentes e não-crentes, tem valor em qualquer circunstância existencial, mesmo quando ameaçada pela crise. Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa Bento XVI surpreende-nos ao afirmar que aí se encontra precisamente a solução da actual crise: “para sair da crise financeira e económica actual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo económico.”
A vida humana é um tráfico de encontros. E por isso, peço a Deus que nos dê a sabedoria da paz para esses encontros. Aquela paz interior que promove a vida, que dissipa a lógica da violência, que dissemina a corrupção, que transforma os olhares pessimistas, que rompe com as muralhas das ditaduras e que sufoca as tonalidades da indiferença. Aliás, à semelhança de Maria, a Rainha da Paz, os atletas paralímpicos são um testemunho actual que nos faz acreditar que realmente “nada é impossível”.
O mundo não se constrói apenas com grandes presidentes, grandes descobertas científicas ou grandes discursos musculados, mas também com pequenos e silenciosos gestos de paz que tornam possível a sociabilidade humana e garantem a sobrevivência do próprio planeta. E o gesto do Papa Bento XVI para com o seu desleal mordomo neste Natal comprova que a humildade abre mais portas que a autoridade.
Para terminar, o “ano internacional da cooperação para a água”, que celebra-se durante este ano de 2013, responsabiliza-nos para a ecologia. A fé, traduzida no amor ao próximo, também se manifesta no cuidar deste “chão” que pisamos, para que as gerações futuras desfrutem dele com qualidade, antes que sejamos nós os autores de um cenário apocalíptico (catástrofe) sobre o mundo.
Porque o Deus da Vida acredita e não desiste de nós, nós acreditamos que vale mesmo a pena viver: é esta a razão primordial! Por isso, um profundo obrigado aos atletas paralímpicos por, neste tempo de crise, nos terem ensinado que desistir é uma acção proibida!
+ Jorge Ortiga, A. P. 27 de Dezembro de 2012.